domingo, 18 de novembro de 2012

Agridoce


Imagem capturada no Google


 
Lá no Araçá, à beira
de um fértil riacho,
havia uma goiabeira,
sombreando vários
formigueiros.  

Para um pequenino,
jogar um pouco
de areia nos formigueiros,
e subir na goiabeira,
eram momentos mágicos.

As formigas, assanhadas,
subiam na goiabeira,
organizadas, enfurecidas,
tentando revidar à provocação.
O menino, tentando fugir,
subia em galhos mais altos.

O problema era quando
ele chegava ao fim da estrada
(ponta de um galho):
sem ter para onde ir,
tinha que escolher entre
as picadas das formigas
e as fraturas da queda.

Picada de formiga-de-roça é uma seta,
e, quando a seta acerta o menino asceta,
impõe um olhar agridoce.

Picada de formiga-de-roça não se esquece.
Ele ainda carrega essa sensibilidade,
mesmo não brincando com formigueiros.

O mundo deturpa o olhar agridoce do menino
com vestimentas doces, mas corpos acres.

(Carlos Souza)

http://janeladescoberta.blogspot.com.br/

3 comentários:

  1. A poesia do Carlos Souza, Macaíba, RN. Vale conhecer, quem não conhece, o espaço do poeta.

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    1. A narrativa dele nos remete à nossa infância, àquele mundo
      repleto de poesia, sem que o soubéssemos, um universo cada vez mais distante, e por isso, tão belo e tão raro na
      infância de hoje!
      Um outro aspecto que ocorreu-me agora: as formigas constituem uma sociedade extremamente organizada e solidária entre si; são dotadas de um sentido arquitetônico, são verdadeiras "engenheiras civis", inteligentíssimas! Agora, a ferroada delas não é brincadeira não! :)
      Gostei muito, e irei visitar o espaço do poeta.
      Obrigada, Tânia.

      um beijo

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  2. Fiquei feliz ao encontrar esse meu poema aqui no Mínimo Ajuste. Que bom!

    Obrigado, Tânia!

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