quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Dois sonetos de Luiz Papi


“Papi maneja o verso com maestria
 e sabe usar as palavras, redescobri-las.”
Ferreira Gullar

Enciclopédia mínima

Jogue-se fora o desventurado
ano que finda. E seus elementos
no cálice do tempo esvaziado
tão sutilmente unam-se aos ventos
aleatórios da nova contagem.
E tudo reestréie com remendos
imperceptíveis na tenra roupagem
suja de terra, adubos e adendos
a corriqueiro ciclo. E rituais
do agrourbano caos, uma faísca
da ferradura cósmica e sais
crestados na retorta da botica
misturem elixires da sortida
enciclopédia mínima da vida.
 .
 .
Surrealismo

Dado lançado, xeque sem xadrez,
o inconsciente na desabada
corrida do delírio, chega a vez
do surreal na arte. Na pitada
de sal insano sobre a escritura
mecânica passeia a ambigüidade
da usina de onirismo e da ruptura
com a falsa lira da modernidade.
A chuva e seu estouro na vidraça
convivem com o lixo e a fumaça
que moram na mansão que desovou
o raio do invisível. Pela telha
rompida na explosão brilha a centelha
fugaz do haxixe do espirit nouveau.


Os dois poemas integram o livro enciclopédia mínima – sonetos de almanaque (Edições Galo Branco, 2004).

5 comentários:

  1. Excelente escolha, Tuca.
    Surpreendente, como sempre!!!

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  2. Tentando de novo:

    Tuquinha, muito bom! Mais uma vez vc nos brinda com pérolas!
    Beijos,

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  3. Valeu, queridas!

    Também tenho penado, Tânia, para comentar nos blogs.

    Beijos pras duas

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  4. Tuca, valeu a pena essa tua "penação", tadinho >:))

    beijo

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