quinta-feira, 9 de maio de 2013

Procura-se



 
Uma família inteira de palavras: vogais consoantes verbos advérbios conjunções pronomes pessoais, enfim, todos os laços que envolvem os mais diversos tipos de sentimentos de uma comunidade linguística desapareceram repentinamente, da noite para o dia. Os doutos representantes dessa família estão reunidos há bastante tempo na tentativa de encontrar uma explicação para o seu desaparecimento. Alguns já pensam até em fazer um inventário de todos os bens por ela deixados:
- o verbo é meu! – diz alguém; -
 eu prefiro o pronome possessivo! – diz o outro;
- eu quero o pingo nos iis e as interjeições! – diz outro em tom teatral;
- eu vou quebrar a métrica e soltar todas as rimas, quero meu versos soltos!
O narrador, que a tudo assiste de um canto da página, encontra-se numa situação um tanto delicada: tem ouvido tantas opiniões, lido um sem número de páginas sobre casos semelhantes. Alguns até afirmam que o eu-lírico tem sido uma repetição daquilo que escreveram há quase um século! Que não há nada de novo, que não há mais emoção nem originalidade; outros dizem, com todas as letras, que pegaram a matriz e estão fabricando textos para jogar às feras do mercado editorial e vendê-los nas feiras como se fossem bananas transgênicas!
Há tantas controvérsias! Será que existe alguém que já nasceu sabendo? O que é mesmo novo, quem imita quem no universo das palavras, das artes em geral?
 E se ninguém contar, se ninguém mais poetar, nem mesmo cantar, choramingar... E se todos ficarem mudos, inclusive o narrador?

O que você faria se fosse o narrador? 

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