“Tudo o que sei, já lá está, mas não estão
os meus passos nem os meus braços. Por isso caminho, cainho porque há um
intervalo entre tudo e eu, e nesse intervalo caminho e descubro o meu caminho.
Mas entre mim e os meus passos há um
intervalo também: então invento os meus passos e o meu próprio caminho. E com
as palavras de vento e de pedras, invento o vento e as pedras, caminho um
caminho de palavras.”
de Um Caminho de Palavras, António Ramos Rosa
Lá fora, como um ténue corpo
luminoso, como uma luz difusa que aguarda o silêncio nocturno dos caminhos,
“este homem que pensou com uma pedra na mão” tacteia a árvore, a margem, o
corpo em meia ferida, na intacta ferida da palavra, o vocábulo raspado pelo
tempo
e vai; o Poeta apenas saiu, deixou as portas, as janelas, o peito aberto ao mundo, foi por aí… ao mundo, ao que dele resta, ao que dele nos resta… e ao dia como alguém que apenas escutou um “grão de silêncio”, em silêncio e o tomou entre as mãos, o dia sagrado, o dia não mais adiado.
Lá fora há sombras e chagas, mas não acredito nas notícias dos jornais: o Poeta apenas saiu, e para os que ficam, foi por aí “com uma pedra na mão” para transformá-la em vida. Nada de mais, para “este homem que parou / no meio da sua vida / e se sentiu mais leve / que a sua própria sombra”
e vai; o Poeta apenas saiu, deixou as portas, as janelas, o peito aberto ao mundo, foi por aí… ao mundo, ao que dele resta, ao que dele nos resta… e ao dia como alguém que apenas escutou um “grão de silêncio”, em silêncio e o tomou entre as mãos, o dia sagrado, o dia não mais adiado.
Lá fora há sombras e chagas, mas não acredito nas notícias dos jornais: o Poeta apenas saiu, e para os que ficam, foi por aí “com uma pedra na mão” para transformá-la em vida. Nada de mais, para “este homem que parou / no meio da sua vida / e se sentiu mais leve / que a sua própria sombra”
e foi; o Poeta apenas saiu, foi
por aí…
2013
* das Cartas ao Poeta (A. Ramos Rosa), # 1
em Sobre o Rosto da Terra
Lindo! O poeta "foi por aí...", nos deixando uma enorme saudade...
ResponderExcluirgrande abraço
Leonardo,
ResponderExcluirnão dá pra explicar o tamanho do rombo.
triste, este dia 23 de setembro.