Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é doutra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaso de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais boiam mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quanto me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
José Saramago
Cada texto de Saramago é um espaço vital em que respiramos o sopro da existência. Nos textos dele conhecemos a fundação de tantas realidades, não perdemos o ritmo e ganhamos mais vida.
ResponderExcluirbjoss,
Saramago recria a existência, como quase diz o José Carlos Sant Anna.
ResponderExcluirSensacional este poema.
Beijo, Cirandeira.
quem não cala não consente!
ResponderExcluirgrande Saramago.
um homem que soube ser feliz quando normalmente as pessoas se pensam um caso perdido.
e um escritor como poucos...
beijos, Ci :)
Só direi,
ResponderExcluirCrispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quanto me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
Dizer o que diante disso? Que homem enorme foi...
Beijos, Ci.
Muito bom!!!
ResponderExcluir=D
ótimo!
ResponderExcluir:D
"Crispadamente recolhido e mudo,
ResponderExcluirQue quem se cala quanto me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo."
Impressionante!
Por ser um texto de Saramago... ja dispensa palavras...
ResponderExcluir