1.
Todas as coisas cujos valores podem ser
disputados
no cuspe à distância
servem para poesia.
O homem que possui um pente
e uma árvore
serve para poesia
Terreno de 10x20, sujo de mato – os que
nele gorjeiam:
detritos semoventes, latas
servem para poesia
Um chevrolé gosmento
coleção de besouros abstêmios
o bule de Braque sem boca
são bons para poesia
As coisas que não levam a nada
têm grande importância
cada coisa ordinária é um elemento de estima
Cada coisa sem préstimo
tem seu lugar
na poesia ou na geral
...
As coisas que não pretendem, como
por exemplo:
pedras que cheiram
água, homens
que atravessam períodos de árvore,
se prestam para poesia
Tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma
e que você não pode vender no mercado
como,
por exemplo, o coração verde
dos pássaros,
serve para poesia
As coisas que os líquenes comem
- sapatos, adjetivos –
têm muita importância para os pulmões
da poesia
Tudo aquilo que a nossa
civilização rejeita,
pisa e mija em cima,
serve para poesia
.
MANOEL DE BARROS..
Só mesmo Manoel de Barros para dizer isso tão poeticamente lindo!
ResponderExcluirAbraço do Pedra
esse é o cara.
ResponderExcluirmanoel!
Como não se render à poesia de Manoel de Barros? Belo poema!
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