terça-feira, 9 de julho de 2013

A Condição Indestrutível de Ter Sido - Resenha de Assis Freitas



Ensaio de oferenda para destruição de um grande amor

“Não existe amor senão aquele que se constrói; não há possibilidade de amor senão a que se manifesta num amor.”
Jean Paul Sartre

Quem está preparado para um grande amor? Ama-se até destruí-lo. Até chegar a uma imperfeição de passado. O bruxo Jamil Sneger em um dos seus textos implacáveis “Para matar um grande amor...”  afirma: “O grande amor exige isso. O rompimento é sua parte complementar. Uma maneira astuciosa de suspender a tragédia, ditada pelo instinto de sobrevivência de cada um dos amantes. Morrer um pouco para se continuar vivendo”.
No livro “A condição indestrutível de ter sido”, Helena Terra nos relata a história inexorável deste morrer. História que começa em um plano virtual, de amantes que se apaixonam pelas sílabas, pelas palavras, pela reinvenção da vida que só o verbo nos permite. Mas, que necessitam provar o ferro e o fogo da carne. Queimar-se na volúpia dos suores.
Voltando a Sneger (me permitam abusar das citações), “só os amores verdadeiros se acabam. Os que sobrevivem, incrustados no hábito de se amar, podem durar uma vida inteira e podem até ser chamados de amor, mas nunca foram ou serão um amor verdadeiro. Falta-lhes exatamente o dom da finitude, abrupta e intempestiva. Qualidade só encontrável nos amores que infundem medo e temor de destruição”.
Aqui não importa a qualidade dos amantes, se eles são bons ou maus, se tramam e insinuam. O que importa é que eles se corrompem por este amor, mentem para afirmar o vício no outro. Todos os amantes são seres viciados, estão imersos neste ópio da paixão. No romance de Helena Terra, a protagonista exerce o poder da sua voz e nos oferece o outro, aquele que é a sua perdição, quase mínimo. Pois esta, também, é uma condição inerente ao grande amor, este tanto que acaba se tornando a singularidade de um só. Este mergulho que aprisiona: “só conseguiremos suportá-lo se ocultarmos de nossos sentidos o objeto dessa desvairada paixão” (Sneger).
O que apreendemos pelos olhos da protagonista são fragmentos de vida, uma busca incessante de reconhecimento próprio e neste engendrar-se galgar o outro: alçar a ponte que pode conduzir ou naufragar. O desenlace da narrativa é simbólico e emblemático. Ao mesmo tempo nos remete a muitos outros finais: “O cenário pode ser uma estação de trem, um aeroporto (remember Casablanca), um entroncamento rodoviário” (Sneger).
E este é o ponto: a existência sempre nos propõe recomeços quando, enfim, conseguimos matar um grande amor.

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