segunda-feira, 18 de junho de 2012

INSÔNIA

Henri Cartier-Bresson





o dia amanheceu desolado
hora certa em descompasso
acelerada disritmia vertical
des-acordo que se ergue
no escuro noturno sem estrelas
teus olhos dormem
abertos teus sentidos mortos
vivos te perguntam:
- por quê? –
o que sangra nem sempre brota
embusteira sagaz e duvidosa
a vida desenraiza-te
germinando laços às vezes
nós enredados ensimesmados
mesclados ocultos dissimulados
fatalmente despertas:
insônia profunda!

E tu, palavra voz verbo
te manifestas como?
Tantas vezes quis expressar-te
invoquei em vão pronunciei
vocábulos imprecações raivosas
sentimentos incrustrados
nas paredes escorrega
dias de meu corpo
lanhado suado tenso
tecendo num frágil tear
emaranhadas linhas superpostas
quebram-se refazem uma teia
interminável
O que faço contigo, palavra?
se já não consigo conjugar teus verbos versos
teus restos mortais para
onde levá-los
para que sufocá-los
em papel sulfite celofane
de embrulho para presente
de ausências?

7 comentários:

  1. Verbos versos são acordes.
    Que bela imagem, Ci.
    As insônias empacotam mesmo as faltas.
    Dão laços e laços em seus contornos.
    E selam o que deveria escapar das caixas.
    beijoss

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  2. Me senti tão dentro desse poema!
    Não me entendam mal, é que sofro de insônia, de vez em quando, e já tiro de letra. É mesmo uma lindeza, gosto demais dele.

    Beijos

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  3. A palavra, ás vezes, saltita e dificulta a escrita e ainda mais a imaginação mas...levada pelo vento, seja pelo que for, ela permanece no coração!
    Beijo
    Graça

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  4. "o que sangra nem sempre brota"

    Ci, o que fazes com as palavras é isso: uma lindeza...
    Tenho te lido no Cirandeira. Insisti e teimei noutro dia querendo comentar o Drummond: em vão.

    Mas ando ali, saiba.
    Beijos,

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  5. as piores não são as que gritamos, são as que nos ficam atravessadas na garganta, presas no peito

    beijo

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  6. Minhas queridas, no momento só posso dizer que fico muito agradecida por me lerem!

    um grande beijo pra todas vocês

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  7. O eterno Bresson!
    Amo!
    Bonito texto.

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