sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Saudades de Saramago



Penso que estamos cegos, cegos que vêem, cegos que vendo, não vêem.
Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos.
Sem memória não existimos, sem responsabilidade talvez não mereçamos existir.
Acho que na sociedade atual nos falta filosofia. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que sem ideias não vamos à parte nenhuma.
Falamos muito ao longo destes últimos anos dos direitos humanos; simplesmente deixamos de falar de uma coisa muito simples, que são os deveres humanos, que são sempre deveres em relação aos outros, sobretudo. E é essa indiferença em relação ao outro, essa espécie de desprezo do outro, que eu me pergunto se tem algum sentido numa situação ou no quadro de existência de uma espécie que se diz racional.
O egoísmo pessoal, o comodismo, a falta de generosidade, as pequenas cobardias do quotidiano, tudo isto contribui para essa pernicosa forma de cegueira mental, que consiste em estar no mundo e não ver o mundo ou só ver dele o que em cada momento, for susceptível de servir os nossos interesses.


José Saramago (1922-2010)

3 comentários:

  1. Profundo, verdadeiro e alo sobre que deveriamos meditar todos os dias: o que fazer para tornar a vida do próximo um pouco melhor

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  2. Acostumamos com o pior (para o nosso pior), vimos nas ruas, calçadas pessoas que assemelham Jesus Cristo, nos tempos do Tal, vestidos num manto, numa coberta, e fechamos nossos vidros...fechamos as janelas do nosso corpo para tentar esconder da alma a responsabilidade que lhe cabe.
    Bjs

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  3. Lindo, e não tenho palavras pra definir.

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