Sei que cumpres teus anos
a cada minuto,
a cada minuto,
que não terás muito tempo
para o que de fato é o tempo
e suas recusas.
Vejo-te cruzar agora
o planalto de linho e trigo
que diante de mim
é uma simples mesa
mas em ti
assombra a eternidade
com suas frutas,
seus lençóis de pão e açúcar,
suas colheres de um leite
que lembra na carne
o paraíso.
És para mim uma máquina
sem sentido no mundo.
De tua boca
fogem talvez cometas absurdos,
constelações que têm no dorso
o nome de meus antepassados,
folhagens que não vi ou não provei, palavras
que ainda me chamam
da infância.
És o que não compreendo.
O que é extremo
feito o sinal de Deus
e não compreendo.
Tu continuas sobre a mesa.
O planalto de linho não se acaba,
indiferente a mim e a ti
nesta casa.
A minha presença, o meu assombro, nada
chegou ainda a teu corpo.
Tu tens talvez este resto de tarde
que não deixará um nome
na inconsciência
que te move.
Também eu
que te sei
não me salvo:
esse incêndio levará um dia
a tua lembrança
do meu sangue, levará a lembrança
de outros dias,
a memória do sangue
no meu sangue
e o mundo voltará à indiferença
que nos cerca.
Teu corpo vence enfim o beiral de linho
e desaparece comigo
no caos.
Nossa!!! que coisa mais linda. Bravo, mesmo, Lacir Anderson Freitas. brilhante.
ResponderExcluirGênio, não é, Wilson?
ResponderExcluirEstou apaixonada por ele.
beijoss :)
Muito boa!
ResponderExcluirGosto.
Muito boa mesmo!
Excluirde torar
ResponderExcluirbeijoo