Há uma palavra que pulsa nas omoplatas,
catedral, aqueduto, estrela,
ou um diadema branco, um vaso de sombra.
Há uma cabeça (eu sei) há uma cabeça
delicada e vulnerável sobre um céu deserto.
E outras palavras ardem como vísceras verdes
ou vitrais perfeitos. A língua sabe as águas
inúmeras, as forças da sombra, o extremo olvido.
Onde a saciedade? Onde a água na água?
Vejo o verde translúcido das árvores, vejo os arroios
que percorrem as terras ásperas e nuas, vejo a boca
da chuva sobre recintos azuis.
Como extenuados cavalos os versos estacam
e a fênix de sílex tresmalha-se nos redemoínhos de sangue.
Antonio Ramos Rosa, em Animal olhar
esse cara é uma das mais deliciosas descobertas da palavra portuguesa.
ResponderExcluirantónio ramos rosa foi escolhido, cirandeira.
sou fã. mil vezes fã.
abração do
r.
eu também :))
Excluir"o poema não é feito de palavras mas de uma pulsação que as subverte e consagra".
ResponderExcluirExtraído do livro Duas águas, um rio, p. 91 (A palavra caminha para o silêncio).
Trata-se de um livro escrito a quatro mãos, ou seja, por Antonio Ramos Rosa e Casimiro de Brito. Publicações Dom Quixote, 1989.
"Durante um ano, Ramos Rosa e Brito, entreteceram, poema a poema um diálogo fecundo e original". Vale a pena conferir.
Também sou leitor de Ramos Rosa. E do Casimiro de Brito, que esteve algumas vezes em Salvador. Mantinha laços estreitos com o saudoso Ildásio Tavares.
Ainda não conheço, José Carlos, mas vou procurar por aqui.
ExcluirObrigadíssima pela dica :)
beijos
Ci,
ResponderExcluirUm poeminha (modo de dizer) de Ramos Rosa.
ONDE OS DEUSES SE ENCONTRAM
Não busque não esperes
Como procurar a nudez do simples?
Os deuses encontram-se no refúgio aberto sombreado
O círculo dilata-se e dilata-nos
O lugar revela-se no esplendor da luz
O mar levanta as suas lâmpadas brancas
Diz de novo a fascinante simplicidade
Diz agora as minúcias
deslumbrantes
arcos na areia insectos frutos
Tanta luz tanta sombra iluminada!
In: ROSA, Antonio Ramos. Gravitações. Lisboa: Litexa Portugal, 1983.
Esse Rosa é de uma "simplicidade", que ofusca!!!
Excluirbeijos