O poeta quer escrever sobre um pássaro:
e o pássaro foge-lhe do verso.
O poeta quer escrever sobre a maçã:
e a maçã cai-lhe do ramo onde a pousou.
O poeta quer escrever sobre uma flor:
e a flor murcha no jarro da estrofe.
Então, o poeta faz uma gaiola de palavras
para o pássaro não fugir.
Então, o poeta chama pela serpente
para que ela convença Eva a morder a maçã.
Então, o poeta põe água na estrofe
para que a flor não murche.
Mas um pássaro não canta
quando o fecham na gaiola.
A serpente não sai da terra
porque Eva tem medo de serpentes.
E a água que devia manter viva a flor
escorre por entre os versos.
E quando o poeta pousou a caneta,
o pássaro começou a voar,
Eva correu por entre as macieiras
e todas as flores nasceram da terra.
O poeta voltou a pegar na caneta,
escreveu o que tinha visto,
e o poema ficou feito.
Nuno Júdice, em “A Matéria do Poema”, Ed.Dom Qixote, Lisboa 2008
O Poeta, a Poetisa... essas Almas estranhas de domarem as palavras, ensinar a seguir o verso, dar as mãos numa estrofe e atingir a plenitude do Poema!... Esse Poeta que arranca a árvore para descrever o fruto... e o come no mais alto ramo de suas emoções!... Esse ser estranho que se fecha para atingir a Liberdade e se liberta no mais exíguo verso confinado à ilusão da criação... do que vai para lá da concepção convencional e... eleva-se!...
ResponderExcluirA Poetisa, essa... leves asas de fino recorte, recortando céus, rasgando névoas e neblinas e dando cor suaves ao rosa dos nevoeiros, também eles, em suas penas, leves e mágicos!...
Seres, porventura... estranhos em sua forma de conceber novas formas à magia de acontecer vida para lá da Vida!....
Que a felicidade envolva toda a Poesia da Natividade!...
Abraço
Senti uma sensação muito parecida com a que tenho quando escuto a música Aquarela :)
ResponderExcluirBonito, Ci!
beijosss
Muito bonito!
ResponderExcluirBeijos,
Não tem coisa mais linda que ver um passáro assim,indo e voltando para costruir seu ninho,é assim que deve deixa-lo viver,obrigada por esse comentario.
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