Escultura de Jorge de Lima
Nessas impressões sem nexo, nem desejo de nexo,
narro indiferentemente a minha autobiografia sem
factos, a minha história sem vida. São as minhas
Confissões, e, se nelas nada digo, é que nada tenho
a dizer.
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Sabemos bem que toda a obra tem que ser imperfeita, e que a menos segura
das nossas contemplações estéticas será a daquilo que escrevemos. Mas inperfeito é tudo, nem há poente tão belo que o não pudemos ser mais, ou brisa leve que nos dê sono que não pudesse dar-nos um sono mais calmo ainda. E assim, contempladores iguais das montanhas e das estátuas, gozando os dias como os livros, sonhando tudo, sobretudo, para o converter na nossa íntima substância, faremos também descrições e análises, que, uma vez feitas, passarão a ser coisas alheias, que podemos gozar como se viessem na tarde.
Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa, Lisboa (1888-1935)
Fernando Pessoa é sempre muito bem-vindo...
ResponderExcluirAbraço!