domingo, 11 de agosto de 2013

A arte de perder


 

 

A arte de perder não é nenhum mistério;
 Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.
 
Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
 A arte de perder não é nenhum mistério.
 
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subsequente
 Da viagem não feita. Nada disso é sério.
 
Perdi o relógio de mamãe Ah! E nem quero
Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
 
Perdi duas cidades lindas e um império
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
 Tenho saudade deles.Mas não é nada sério.
 
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério.


Elizabeth Bishop, Massachussets - 1911-1979
 
 Tradução de Paulo Henriques Britto

2 comentários:

  1. Cirandeira, este poema de uma beleza que me comove de doer, doer, doer.
    Elizabeth Bishop é uma poeta linda.

    ResponderExcluir