segunda-feira, 13 de maio de 2013

Nos dias de chuva



Nos dias de chuva intensa, quando os relâmpagos iluminam as paredes, corro até o armário do último quarto, onde se guardam as coisas restantes da casa, e pego a toalha azul aveludada com que às vezes seco meu corpo, para depois cobrir, equilibrando-me sobre um banco, o espelho de  moldura envelhecida sempre exposto ao silêncio dos meus medos, espelho em que me fito à noite,quando escovo os dentes e em que me surpreendo com os desenhos do meu rosto, não me achando parecida com minha mãe e tampouco comigo, com a mulher que abriga a minha expressão antes de me deitar e com quem acordo, eu, em metamorfose ora lenta ora tumultuada, perdida  em meio a traços estranhos e incompreensíveis à percepção dos meus olhos lapidados por lágrimas e risos e pela inconstante presença de outros olhos sobre os meus, sobre o meu nariz, minha boca, sobre os meus movimentos carentes de colo, de carne e de credo.

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