quarta-feira, 29 de maio de 2013

Casa Vazia

 
Manuel Alvarez Bravo
 

Poema nenhum,
 nunca mais será um acontecimento:
Escrevemos cada vez mais
para um mundo cada vez menos,
para esse público dos ermos,
 
composto apenas de nós mesmos,
uns joões batistas a pregar
para as dobras de suas túnicas,
seu deserto particular,
ou cães latindo, noite e dia,
dentro de uma casa vazia.
 
 
Alberto da Cunha Melo, sociólogo, jornalista e poeta, nascido em Jaboatão dos Guararapes(PE) - 1942-2007

4 comentários:


  1. [ainda assim,

    vão as palavras muito além dos quotidianos quereres;
    vão, por essa casa vazia
    e andarão transeuntes!]

    um imenso abraço,

    Lb

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    1. e que bom que seja assim, Leonardo, principalmente quando transitam por ela pessoas como VOCÊ !!!

      beijo

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  2. O Alberto é um dos meus conterrâneos mais fortes na literatura. Impossível ficar indiferente ao poema-livro Yacala, por exemplo.

    Mas agora gostaria de chamar a atenção quanto à diagramação do poema. Ele foi escrito em forma de retranca (criação do próprio poeta): uma quadra, um dístico, um terceto e outro dístico - 8 sílabas cada verso, portanto o poema é:

    CASA VAZIA

    Poema nenhum, nunca mais,
    será um acontecimento:
    escrevemos cada vez mais
    para um mundo cada vez menos,

    para esse público dos ermos
    composto apenas de nós mesmos,

    uns joões batistas a pregar
    para as dobras de suas túnicas
    seu deserto particular,

    ou cães latindo, noite e dia,
    dentro de uma casa vazia.


    Como para Alberto forma é conteúdo, acho importante manter o poema como original. Estou realmente feliz de ter lido ele por aqui. Sempre costumo recitar esse poema junto com o também seu Schopenhauer. Abraços!

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