terça-feira, 10 de abril de 2012
Uma manhã no Agreste
E eis que sem prévio aviso, atraindo meu olhar, ali vão despontando ao longo do caminho, pequenas fulgurações, ora em tons de violeta, lilás e lilás claro, quase se confundindo com o azul claro, ora com o rosa com o ocre, amarelo claro, carmim. Difícil é resistir ao impulso de tocá-las, buscar sua fragrância, talvez duvidosa de sua real existência em meio àquela mata sem estirpe, ao barro, pedra, aquelas minúsculas porções de magia e encanto nos arrebatam a ponto de querermos verificar, num gesto brusco dos humanos se de fato aquelas florzinhas de tão delicadas formas, são mesmo de verdade: se talvez experimentando os efeitos de altas doses de oxigênio em torno de nós, não estaremos alucinando, a ver estrelas no capinzal. Sim, no capim vimos estrelas que num primeiro momento parecem ter sido pintadas a mão, como se alguém querendo aproveitar a cal que sobrou de uma construção, resolvesse pintar a natureza. Não, foi o capim que vendo tantas lindas florzinhas a seu redor, numa atitude de desafio, decidiu também tornar-se flor!. Pequena amostra da natureza, peço-te perdão pelo meu momento de desvario que me fez arrancar-te do solo para contemplar-te mais de perto, admirar tua delicadeza, quem sabe procurando guardá-la dentro de mim por instantes.
Creio contudo, que no máximo devo contentar-me em poder admirar-te, ter um pouco de sensibilidade para isso o que talvez já seja um pequeno privilégio, entorpecida que vim, das emanações urbanas do concreto vertical. Nessa minha caminhada em busca do verde, das coisas simples, deparei-me também com suaves acordes que brotavam ora do vento balouçando as árvores e capinzais do que nos restou da mata atlântica, ora do marulhar de uma pequena grota quase oculta por verdejante relva. Mas os sons não param por aí: escuto também o trinado ritmado de passarinhos que chamamos tesouras, lavandeiras, bem-te-vis e se tivermos sorte, ainda ouviremos um desses pequenos maestros da mata que a espaços de tempo regulares, como numa marcação orquestral, nos dão o tom de seu fagote.. Se esperarmos pelo breve momento antes do anoitecer, também escutaremos o ritmado coaxar daquelas criaturinhas de tom esverdeado-marrom que chamamos de pererecas, sapos ou cantores da noite.
Assim, no contato com a natureza encontrei a vida em suas múltiplas formas, encontrei a beleza, música e harmonia. Reencontrei minha sensibilidade adormecida, essa dádiva que recebemos desde o nascer e que não devemos perder ou desperdiçar expondo-nos aos ruídos e sons violentos por vezes travestidos de música, que apenas nos atordoam e roubam o que temos de mais precioso que é a capacidade de nos sentirmos vivos, vibrando com o simples e o belo das pequenas coisas.
Flora Campos, Agreste pernambucano.
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Saudações quem aqui posta e quem aqui visita.
ResponderExcluirÉ uma mensagem “ctrl V + ctrl C”, mas a causa é nobre.
Trata-se da divulgação de um serviço de prestação editorial independente e distribuição de e-books de poesia & afins. Para saber mais, visitem o sítio do projeto.
CASTANHA MECÂNICA - http://castanhamecanica.wordpress.com/
Que toda poesia seja livre!
Fred Caju
*
ResponderExcluiradorei !
cheiros, cores,tons
e sons agrestes, são a
unica riqueza dos descamisados !
,
arroxeadas conchinhas,
ficam,
*
Identifiquei-me totalmente com o texto, Ci. A Natureza é o meu ninho, meu útero, minha casa, minha mãe. Belo, muito belo.
ResponderExcluirBeijos,
P.S. - Ainda não consigo comentar no Cirandeira. :-(