Ávidos de ter, homens e mulheres caminham pelas ruas.
As amigas sonâmbulas, invadidas de um novo a mais querer,
Se debruçam banais, sobre as vitrines curvas.
Uma pergunta brusca, enquanto tu caminhas pelas ruas.
Te pergunto: E a entranha?
De ti mesma, de um poder que te foi dado
Alguma coisa clara se fez? Ou porque tudo se perdeu
É que procuras nas vitrines curvas, tu mesma,
Possuída de sonho, tu mesma infinita, maga,
Tua aventura de ser, tão esquecida?
Por que não tentas esse poço de dentro
O incomensurável, um passeio veemente pela vida?
Teu outro rosto. Único. Primeiro. E encantada
De ter teu rosto verdadeiro, desejarias nada.
(Júbilo Memória Noviciado da Paixão(1974) - Poemas aos Homens do nosso Tempo - XIII)
* * *
Enquanto faço o verso, tu decerto vives.
Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue.
Dirás que sangue é o não teres teu ouro
E o poeta te diz: compra o teu tempo.
Contempla o teu viver que corre, escuta
O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo.
Enquanto faço o verso, tu que não me lês
Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala.
O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:
"Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas".
Irmão do meu momento: quando eu morrer
Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo:
MORRE O AMOR DE UM POETA.
E isso é tanto, que o teu ouro não compra,
E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto
Não cabe no meu canto.
(Júbilo Memória Noviciado da Paixão(1974) - Poemas aos Homens do nosso Tempo - XVI)
(Poesia: 1959 - 1979 - São Paulo: Quíron; [Brasília]: INL, 1980.)
As amigas sonâmbulas, invadidas de um novo a mais querer,
Se debruçam banais, sobre as vitrines curvas.
Uma pergunta brusca, enquanto tu caminhas pelas ruas.
Te pergunto: E a entranha?
De ti mesma, de um poder que te foi dado
Alguma coisa clara se fez? Ou porque tudo se perdeu
É que procuras nas vitrines curvas, tu mesma,
Possuída de sonho, tu mesma infinita, maga,
Tua aventura de ser, tão esquecida?
Por que não tentas esse poço de dentro
O incomensurável, um passeio veemente pela vida?
Teu outro rosto. Único. Primeiro. E encantada
De ter teu rosto verdadeiro, desejarias nada.
(Júbilo Memória Noviciado da Paixão(1974) - Poemas aos Homens do nosso Tempo - XIII)
* * *
Enquanto faço o verso, tu decerto vives.
Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue.
Dirás que sangue é o não teres teu ouro
E o poeta te diz: compra o teu tempo.
Contempla o teu viver que corre, escuta
O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo.
Enquanto faço o verso, tu que não me lês
Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala.
O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:
"Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas".
Irmão do meu momento: quando eu morrer
Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo:
MORRE O AMOR DE UM POETA.
E isso é tanto, que o teu ouro não compra,
E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto
Não cabe no meu canto.
(Júbilo Memória Noviciado da Paixão(1974) - Poemas aos Homens do nosso Tempo - XVI)
(Poesia: 1959 - 1979 - São Paulo: Quíron; [Brasília]: INL, 1980.)
Cirandeira,
ResponderExcluirMuito bem dito por Hilda.
Obrigado por postar!
Um beijo, amiga!
Agradeçamos a Hilda Hilst por nos deixar uma Poesia tão preciosa!!!
Excluirum beijo, Marcelo
Gostei de ambos, muito bons! Especial atenção eu dei para a sua foto de cabeceira do blog. Que impressionante imagem...
ResponderExcluirBeijo de Páscoa.
Que bom que você gostou, Teca! Obrigada pelo comentário.
ExcluirBoa Páscoa pra você!
confesso o meu total desconhecimento, mas Hilda Hilst chamou a minha atenção
ResponderExcluirgrata pela partilha
beijo
Hilda Hilst: grande!
ResponderExcluirBeijos,