terça-feira, 7 de novembro de 2017

JUDITE O FILME





Todo jardim é o início dos voos de uma lagarta.

Mesmo sem asas, eu aprendi a voar sonhando com as pipas
correndo no quintal da casa 53 de um bairro distante daquela cidade pequena do
interior.

Para voar é preciso equilibrar o ar – respira e vai sem medo
das tempestades que com certeza virão.
Sempre preferi os dias chuvosos, cinzentos. O azul intenso do
céu me assustava e eu corria para a barra da saia de minha avó enquanto me
inebriava com o cheiro dos doces que ela fazia e me acalmava impedindo que eu
chorasse.

Eu nunca consegui chorar, embora tenha um nó na garganta
desde que nasci.

Dizem que não podemos fugir do nosso destino. Talvez, o meu
seja esse nó que não desata, essa asa que não cresce, essa lágrima que não
desce.

Mas, eu queria ter muitos destinos e no meio de tanto querer
fui inventando de inventar um monte de invencionices e a maior delas foi que
inventei um Jardim só para mim onde eu pudesse compartilhar olhares, afetos,
amores.



Um Jardim que se transformasse num mundo e me fizesse voar, mesmo
sem sair daquele quintal.

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