quarta-feira, 3 de abril de 2013

A metáfora da autoestima


 

A águia e a galinha
 
 

Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei / rainha de todos os pássaros. Depois de cinco anos, este homem recebeu a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:
– Este pássaro aí não é uma galinha. É uma águia
. – De fato, – disse o camponês. É águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.
– Não – retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.
– Não, não – insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.
Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:
– Já que de fato você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe!
A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas. O camponês comentou:
– Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!
– Não – tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.
No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurrou:
– Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe!
Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas. O camponês sorriu e voltou à carga:
– Eu lhe havia dito, ela virou galinha!
– Não – respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar. No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram-na para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas. O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
– Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra as suas asas e voe! A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte. Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergueu-se soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez para mais alto. Voou… voou… até confundir-se com o azul do firmamento…

Mark Twain,  Flórida, Missouri (1835-1910) 

6 comentários:

  1. Nossa essencia nao muda... permanece... apesar das circunstancias...

    ResponderExcluir
  2. fábulas fabulosas...
    guardo-as. todas.
    beijão, cirandeira.

    ResponderExcluir
  3. Ci, tem quem queira nos engaiolar para seu próprio deleite, dizendo que é para o nosso bem...

    Adorei!

    beijoss

    ResponderExcluir
  4. Sem acéscimos, Ci, que fábulas falam tudo!

    Beijos,

    ResponderExcluir
  5. Minha ex-mulher tinha um cachorro, que ao ganhar um osso, levava-o até um pedaço da sala onde tínhamos um chão de ardósia, e tentava cavá-lo para escondê-lo. Era da sua natureza.
    Pois acredito firmemente que nada do que somos se esvai, mesmo sob outras condições.
    Só uma dúvida que me surgiu a partir do comentário da querida Tania.
    Histórias onde animais não são os personagens principais, os que fazem a história, também são fábulas?
    Beijos grandes

    ResponderExcluir
  6. Li este texto no livro de Leonardo Boff "A águia e a Galinha". Um livro muito lindo.
    Beijos!!

    ResponderExcluir