quinta-feira, 28 de julho de 2011

Meu Moçambique






Minha África suburbana


Eu sei-me Moçambique,


cisterna no pecúlio dos deuses.


Um Zambeze inteiro escala a língua


escorre-me pelas pernas


ramifica nos canhoneiros,


laça os peixes inquietos nas sementes


engolfa-se nos mpipis bêbados nas timbilas.


Eu sei-me Moçambique


no cume das árvores, na sede incontinente


de minha falange, do Rovuma ao Incomati,


no xigubo terrestre dos pés descalços


e em todos os tambores que surdem


das mãos coloridas nos braços em chaga.



Tânia Tomé, Maputo (capital de Moçambique) - 1981

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