Olhar o rio feito de tempo e água
e recordar que o tempo é outro rio,
saber que nos perdemos como o rio
e que os rostos passam como a água.
Sentir que a vigília é outro sonho
que sonha não sonhar e que a morte
que teme nossa carne é essa morte
de cada noite, que se chama sonho.
No dia ou no ano perceber um símbolo
dos dias de um homem e ainda de seus anos,
transformar o ultraje desses anos
em música, em rumor e em símbolo,
na morte ver o sonho, ver no ocaso
um triste ouro, tal é a poesia,
que é imortal e pobre. A poesia
retorna como a aurora e o ocaso.
Às vezes pelas tardes certo rosto
contempla-nos do fundo de seu espelho;
a arte deve ser como esse espelho
que nos revela nosso próprio rosto.
Contam que Ulisses, farto de prodígios,
chorou de amor ao divisar sua Ítaca
verde e humilde. A arte é essa Ítaca
de verde eternidade, sem prodígios.
Também é como o rio interminável
que passa e fica e é cristal de um mesmo
Heráclito inconstante, que é o mesmo
e é outro, como o rio interminável.
Jorge Luís Borges, em o fazedor - Companhia das Letras
Sabia que era uma postagem sua!
ResponderExcluirDeus, como eu gostaria de ter escrito isso. Podia juntar o "farto de semideuses" do Álvaro de Campos a este "farto de prodígios" desse Ulisses que corre à Ítaca da arte.
Beijo.
Que maravilha, Cirandeira: Borges! Magnífico...
ResponderExcluirBeijos,
A esperança e a alegria de viver esta
ResponderExcluirnos atos de amor que praticamos.
Quero viajar todos os dias semeando
a paz no coração dos amigos (as)ser
apreciada por minha presença.
Quero jogar flores por onde
eu passar.
E em silêncio deixar a palavra
mais bonita.
(Creia em Deus porque viver é fantástico.)
Um beijo na alma e no coração com carinho,,Evanir,
A arte é a alma exposta.
ResponderExcluirtua poesia é linda
Abraço