quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Manuel Tolentino de Almeida, A uma Velha presumida


SONETO XXVII.               
Debalde sobre a face encarquilhada
Pendendo louros bugres emprestados,
Dás inda ao louco amor teus vãos cuidados,
Em carmins enganosos confiada.

Postiça formosura, em vão comprada,
Não torna atraz os annos apressados:
Nem alvos dentes de marfim talhados,
Tornão em nova a tremula queixada.

De ti no mesmo tempo que do Gama
Cantou mil bens a Deosa Trombeteira,
A que os baixos Poetas chamão Fama:

Porém sempre ficaste em boa esteira;
Porque, se já não prestas para dama,
Inda serves mui bem como terceira.

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