segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Hilda Hilst

I
 
 
Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo
Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses...
E era como se a água
Desejasse
Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, sem tocar a margem.
Te olhei. E há um tempo
Entendo que sou terra. Há tempo espero
Que teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu
Pastor e nauta.
Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.
 
Em Dez chamamentos ao amigo


Um comentário:

  1. Que delícia de poema, água sobre a terra, terra sentindo a água correr, assim espero também, poder me ver com olhos de outrem. Adoro esta escritora, a conheci através de Caio Fernando Abreu.
    ps. Carinho respeito e abraço.

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