75.
Era uma vez uma idade. Sentada à porta de casa apascentava os seus mortos. Quando eles se aproximavam demasiado separava-os com uma varinha. Sim porque o peso dos mortos para onde vai perguntava a idade. E nesses momentos envelhecia. Recolhia a casa e os mortos deitavam-se debaixo das árvores. Quando os ramos envelheciam os mortos perguntavam a idade para onde irá. E erguiam-se de sob as árvores.
80.
Era uma vez uma história tão impressionante que quando alguém a lia o livro começava a transpirar pelas folhas. Se o leitor fosse muito bom o livro soltava mesmo algumas pequeninas gotas redondas de sangue.
137.
Sentado à porta de casa um filólogo meditava a evolução das palavras. Em frente havia um precipício. De tantos em tantos anos caía lá uma palavra. Então o filólogo retirava a rede e colhia a palavra caída. não sei se isso se devia à extrema dificuldade da recolha se á extrema solidão do seu trabalho.
Ana Hatherly, em A idade da escrita e outros poemas
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