sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
quinta-feira, 23 de janeiro de 2014
sábado, 18 de janeiro de 2014
Anjos
os anjos
são ressonâncias dos deuses mais antigos
do mais secreto de nossa demência
:
guardando os vivos
velando nossos mortos
ou devotados às mágoas
consolam os sofredores deste mundo
ou vestidos de saudade
e em legiões visitam nossos sonhos
ando hoje em dia
na doce companhia de anjos tristes
domingo, 5 de janeiro de 2014
Apostila
Ilha de Páscoa, CHILE
Aproveitar o tempo!
Mas o que é o tempo, que eu o aproveite?
Aproveitar o tempo!
Nenhum dia sem linha...
O trabalho honesto e superior...
O trabalho à Virgílio, à Milton...
Mas é tão difícil ser honesto ou superior!
É tão pouco provável ser Milton ou ser Virgílio!
Aproveitar o tempo!
Tirar da alma os bocados precisos
— nem mais nem menos —
Para com eles juntar os cubos ajustados
Que fazem gravuras certas na história
(E estão certas também do lado de baixo que se não vê)...
Pôr as sensações em castelo de cartas, pobre China dos serões,
E os pensamentos em dominó, igual contra igual,
E a vontade em carambola difícil.
Imagens de jogos ou de paciências ou de passatempos
—
Imagens da vida, imagens das vidas.
Imagens da Vida.
Verbalismo...
Sim, verbalismo...
Aproveitar o tempo!
Não ter um minuto que o exame de consciência desconheça...
Não ter um ato indefinido nem factício...
Não ter um movimento desconforme com propósitos
Boas maneiras da alma...
Elegância de persistir...
Aproveitar o tempo!
Meu coração está cansado como mendigo verdadeiro.
Meu cérebro está pronto como um fardo posto ao canto.
Meu canto (verbalismo!) está tal como está e é triste.
Aproveitar o tempo!
Desde que comecei a escrever passaram cinco minutos.
Aproveitei-os ou não?
Se não sei se os aproveitei, que saberei de outros minutos?!
(Passageira que viajaras tantas vezes no mesmo compartimento comigo
No comboio suburbano,
Chegaste a interessar-te por mim?
Aproveitei o tempo olhando para ti?
Qual foi o ritmo do nosso sossego no comboio andante?
Qual foi o entendimento que não chegamos a ter?
Qual foi a vida que houve nisto?
Que foi isto a vida?)
Aproveitar o tempo!
Ah, deixem-me não aproveitar nada!
Nem tempo, nem ser, nem memórias de tempo ou de ser!...
Deixem-me ser uma folha de árvore, titilada por brisa,
A poeira de uma estrada involuntária e sozinha,
O vinco deixado na estrada pelas rodas enquanto não vêm outras,
O pião do garoto, que vai a parar,
E oscila, no mesmo movimento que o da alma,
E cai, como caem os deuses, no chão do Destino
Fernando Pessoa, em Poesias de Álvaro de Campos, 1944..
quinta-feira, 2 de janeiro de 2014
feliz ciclo novo
Se ela tivesse uma bola de cristal, talvez não tivesse feito previsões tão corretas sobre o que aconteceria a seguir, quanto as palavras que disse a ele naquela noite. Sim, ela sabia que todas as declarações e promessas eram, mais uma vez, palavras jogadas ao vento. Por mais diferentes que parecessem.
Mas eram dias que antecediam o ano novo. Dias que antecediam as promessas de renovação.... por que não? Por que não dar uma chance para o destino mal resolvido, para o acaso tão injusto, para o amor tão cego?
Por que algumas coisas, nunca mudam, pensou ela. Por mais que se deseje. Enquanto pensava isso, jogava pedrinhas pelo caminho. As pedras que queria deixar para trás...
Anos novos, mesmo que no imaginário podem, sim, trazer novas definições. E uma das decisões dela, era a de encerrar, definitivamente, esse ciclo. Se não podia deixar de amar, podia ao menos aceitar isso. E finalmente lidar com esse fato. Entender que nada, jamais mudaria, se ela não deixasse de ser conivente.
Então, ela agradeceu ao ano que começaria. E pensou que fazer diferente, só dependia dela. E que talvez, essa fosse a parte mais difícil.
...Ou a mais fácil.
Feliz 2014!
Mas eram dias que antecediam o ano novo. Dias que antecediam as promessas de renovação.... por que não? Por que não dar uma chance para o destino mal resolvido, para o acaso tão injusto, para o amor tão cego?
Por que algumas coisas, nunca mudam, pensou ela. Por mais que se deseje. Enquanto pensava isso, jogava pedrinhas pelo caminho. As pedras que queria deixar para trás...
Anos novos, mesmo que no imaginário podem, sim, trazer novas definições. E uma das decisões dela, era a de encerrar, definitivamente, esse ciclo. Se não podia deixar de amar, podia ao menos aceitar isso. E finalmente lidar com esse fato. Entender que nada, jamais mudaria, se ela não deixasse de ser conivente.
Então, ela agradeceu ao ano que começaria. E pensou que fazer diferente, só dependia dela. E que talvez, essa fosse a parte mais difícil.
...Ou a mais fácil.
Feliz 2014!
quarta-feira, 1 de janeiro de 2014
Assinar:
Postagens (Atom)