quinta-feira, 31 de outubro de 2013

FELIZ ANIVERSÁRIO, Tânia !!!!


 

Querida Tânia, nós do 'Mínimo" te desejamos muitas alegrias e o Máximo de Poesia e Amor na continuação de tua vida! Beijos, beijos, beijosssss

Deixo para ti um trecho do poema Mãos dadas, de Carlos Drummond de Andrade, que também faria aniversário hoje:

[...]


Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao amanhecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicidas,
não fugirei para as ilhas, nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente,
os homens presentes,
a vida presente.


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Tanta beleza


Lou Reed: 1942–2013


Ontem, ao 71 anos de idade, faleceu o cantor, compositor e guitarrista norte-americano Lou Reed, um daqueles artistas que podia ser apelidado simplesmente de lenda viva da música rock.
Com algumas excepções pontuais, sempre gostei mais do trabalho de Lou Reed nos The Velvet Underground do que da sua carreira a solo. Do icónico «disco da banana» (como ficou conhecido) com a participação de Nico, destaco I'll Be Your Mirror, uma canção perfeita. Um excerto da letra:

          When you think the night has seen your mind
          That inside you're twisted and unkind
          Let me stand to show that you are blind
          Please put down your hands
          'Cause I see you

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Em meu Ofício ou Arte Taciturna

  Francis Bacon

 
Em meu ofício ou arte taciturna
Exercido na noite silenciosa
Quando somente a lua se enfurece
E os amantes jazem no leito
 
Com todas as suas mágoas nos braços,
Trabalho junto à luz que canta
Não por glória ou por pão
Nem por pompa ou tráfico de encantos
 
Nos palcos de marfim
Mas pelo mínimo salário
De seu mais secreto coração.
Escrevo estas páginas de espuma
 
Não para o homem orgulhoso
Que se afasta da lua enfurecida
Nem para os mortos de alta estirpe
Com seus salmos e rouxinóis,
 
Mas para os amantes, seus braços
Que enlaçam as dores dos séculos,
Que não me pagam nem me elogiam
E ignoram meu ofício ou minha arte.


Dylan Thomas, País de Gales - 1914-1953
 
 


Regresso a Sísifo

Max Klinger, 1914
 
 
Rolo a pedra e outra vez como antes
a empurrarei, a empurrarei ladeira acima
para vê-la rolar de novo.
Começa a batalha que aconteceu mil vezes
contra apedra e Sísifo e eu mesmo.
 
Pedra que nunca deterás no alto:
dou-te as graças por rolar ladeira abaixo.
Sem este drama inútil, a vida seria inútil.
 
José Emílio Pacheco, México.


sábado, 19 de outubro de 2013

Você não vale nada, mas eu gosto de você!?



"A ema gemeu...." !?


Vinicius de Moraes (10)


Para finalizar esta série, uma escolha um pouco diferente: Por causa de você. Tom Jobim havia composto a melodia desta canção, e Vinicius iria escrever a letra. Entretanto, Jobim mostrou a melodia a Dolores Duran, tendo esta, de imediato, escrito uma letra. Quando Vinicius viu a letra, considerou-a superior à sua, preferindo-a. 
Mesmo não sendo uma canção de Vinicius (nota: há quem diga que este deu o seu contributo na composição da música), é incontornável como testemunho da generosidade e da humildade de Vinicius.

Vinicius de Moraes (9)


Voltamos a Elis Regina (como não?!), desta feita acompanhada por César Camargo Mariano numa sentida interpretação de Modinha, mais uma canção da dupla Vinicius/Jobim.

A "genialidade" de Aladim no século XXI !

 
Era uma vez uma mulher que caminhava despreocupadamente pelas ruas de uma grande cidade brasileira e defrontou-se com a Lâmpada de Aladim. Passados os primeiros segundos de surpresa, ela a tocou, e como era esperado, dela saiu um Gênio. Imediatamente, a mulher foi fazendo seus pedidos:
 
- quero que eu seja a única para o meu marido;
- que ele tome o café da manhã, que almoce, jante, e durma sempre ao meu lado;
- que me toque logo que acordar;
- que não me deixe nem quando for ao banheiro:
- que viaje sempre comigo;
- que cuide de mim e me contemple;
- que nunca me deixe sozinha e me leve com ele para todos os lugares.
 
E então, ZÁS.....!!!
O Gênio a transformou num
CELULAR !!!!


Vinicius de Moraes (8)


Vinicius, em Portugal, sentia saudades do Brasil. Aqui, corria o ano de 1968, estava em casa de Amália Rodrigues. Saudades do Brasil em Portugal, uma espécie de fado (na essência, pelo menos, é-o), na voz de Vinicius, primeiro, e de Amália, depois.

Vinicius de Moraes (7)


Canto de Ossanha, do transcendente álbum Os Afro Sambas, que a dupla Baden/Vinicius lançou em 1966, é certamente uma das canções brasileiras que mais vezes escuto. Diz-se, e é absolutamente plausível, que o motor de inspiração de Baden e Vinicius foi alimentado, durante vários dias, por litros e litros de whiskey. Abençoado whiskey!  

Vinicius de Moraes (6)


A belíssima Eu sei que vou te amar, aqui numa interpretação de Gal Costa (voz) e Tom Jobim (piano). Feliz de quem sabe isto, mesmo que tão-só pense que sabe. 

Vinicius de Moraes (5)


Samba da Benção, na voz de Maria Bethânia. Este tema resulta da colaboração entre Vinicius e aquele que, a par de António Carlos Jobim, é, para mim, o seu parceiro mais importante: Baden Powell (e não, não me estou a esquecer de Chico Buarque).

Escutar ainda: Baden Powell, Márcia e Os Originais do Samba | Bebel Gilberto | Sérgio Mendes & Marcelo D2 | Vinicius de Moraes e João Gilberto

Vinicius de Moraes (4)


Valsinha, resultado da parceria do poeta com Chico Buarque, na voz do próprio Chico Buarque.

Vinicius de Moraes (3)


Lamento no Morro, uma das canções escritas para a banda sonora de Orfeu da Conceição (1956). De novo, uma parceria entre Vinicius e Tom Jobim, aqui na versão original, interpretada pelo cantor Roberto Paiva. 

Vinicius de Moraes (2)


Por toda a minha vida, mais uma canção que resultou da parceria entre Vinicius e Tom Jobim, aqui na voz da magnífica Elis Regina. 

Escutar ainda: Mônica Salmaso

Vinicius de Moraes (1)


Insensatez, feliz resultado da parceria entre Vinicius de Moraes e António Carlos Jobim (o Tonzinho do Vinicius), aqui na voz de Mônica Salmaso. 

Vinicius de Moraes – 100 anos


Se fosse vivo, Vinicius de Moraes completaria hoje 100 anos. Certamente, estaria festejando de molho numa banheira, com um copo de «cachorro engarrafado» (whiskey, o melhor amigo do homem) na mão e debochando de qualquer coisa. 
É-me impossível descrever o homem em toda a sua abrangência (tantas fases, tantos parceiros musicais, tantas mulheres...), mas, para esse efeito, entre outros, recomendo-vos Vinicius (2005), o documentário realizado por Miguel Faria Jr, ex-genro de Vinicius (foi casado com a sua filha mais velha, Suzana), e os excelentes textos que Anabela Mota Ribeiro publicou no seu mural do Facebook ao longo da semana. 
Por aqui, ao longo do dia de hoje, limitar-me-ei a partilhar convosco alguns dos meus temas preferidos de Vinicius. 
Saravá!

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Da série ouvindo no carro

The Cure - Friday I'm In Love

FRAQUEZA DOS HOMENS

O que é impossível para minha natureza tão fraca e limitada,  que tem uma duração tão curta,  seria impossível em outros globos,  em outras espécies de seres?  Haverá inteligências superiores,  mestras de todas as suas ideias, que pensam e que sentem tudo o que elas querem?  Não sei;  conheço apenas minha fraqueza, não tenho noção alguma da força dos outros.
 
 
Voltaire, em  O filósofo ignorante

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Wilson Caritta



A casa alada
 
 
Há palavras que se agarram,
lá na casa das leituras
acasaladas no poeta
não se entregam.
Moram na casa da palavra,
pintam e bordam o poema.
 
 
 
Sem teto
 
 
Há dois jeitos de dormir
vendo as estrelas:
 
tê-las coladas no teto do quarto
ou deitando com o seu olhar
a céu aberto.
 
 
Pensata para Manoel de Barros
 
 
Poeta não tem armas,
só um coração cheio de asas,
um mestre disse que a poesia
voa do lado de fora e faz seu corpo
arrepiar por inteiro.
 
 
Wilson Caritta nasceu na cidade de São Paulo, em 1964 e faleceu hoje, vítima de uma diverticulite.  É autor dos livros Poemas em autoplágio, Rebeldes Azuis e o Profeta da ilha. Era editor do blog Atemporal .



terça-feira, 15 de outubro de 2013

Cena carioca




Acordara tão feliz naquele dia que deu dez reais ao mendigo à saída da faculdade e logo depois viu que tinha ficado sem dinheiro para a passagem. Tentou uma carona, mas o colega ia para o lado oposto da cidade. Lembrou então do pai, que àquela hora devia estar ainda no escritório da rua do Ouvidor. Correu para lá e o pai já tinha saído. Ligou para casa, é, mãe, estou sem dinheiro. Toma um táxi, a gente paga aqui - mas às sete da noite é uma coisa meio difícil, começava uma chuva de verão e ela teve a desagradável sensação de que nunca mais conseguiria voltar para casa.
O bom humor da manhã era agora uma vaga lembrança. Perdeu um táxi para uma velhinha simpática, outro para um sujeito grosseiro que fingiu não ter visto seu sinal e outro para uma mulher cheia de embrulhos com um garotinho a tiracolo. Descabelada, as sandálias ensopadas, avançou para um carro de que desembarcava uma criatura imensamente gorda. Junto com ela, duas mulheres falando aos gritos e dois sujeitos mal-encarados, sem falar no velhinho magrelo e rabugento, forçavam a passagem, um cotovelo ossudo em suas costelas, o guarda-chuva quase furando seu olho. Não saberia dizer como, mas ganhou a parada. Sentada no fundo do carro, os cabelos escorrendo, água entrando nos olhos, ainda pôde ver o gesto obsceno do velhinho e a cara de ódio dos sujeitos e das mulheres. Largou-se no banco, suspirando aliviada. Copacabana, disse ao motorista, rua Miguel Lemos.
Estavam na esquina da Evaristo da Veiga e o motorista diminuiu a marcha e se virou para ela. Ah, moça, não vai dar, disse com um meio-sorriso. Acabei de vir de lá, está tudo engarrafado, e além disso eu hoje nem almocei. Não leva a mal não... A raiva a fez pular do carro na calçada alagada sem olhar para trás. Nem no abrigo do ponto de ônibus havia lugar para escapar do aguaceiro. Dez minutos, quinze, vinte minutos e nada.
De repente sentiu que alguém a segurava pela cintura e se encostava nela. Olhou meio assustada meio esperançosa de encontrar um amigo qualquer, e viu um rosto estranho, até bonito, com um sorriso resplandecente, que sussurrava em seu ouvido: ri pra mim e me passa a carteira e o relógio que vai dar tudo certo. Sentiu as pernas tremerem e de repente desatou a rir como uma louca, sem o menor controle. Não precisa exagerar, disse o sujeito, olhando em volta rapidamente. Ela não conseguia parar. Achou fôlego pra perguntar: você tem algum dinheiro aí? Eu?! ele, atônito. É, só pra eu poder pegar o ônibus. Sentiu então a pressão nas costelas. Não sacaneia. Me passa logo o dinheiro e o... É sério não tenho um tostão, estou ensopada e vou pegar uma pneumonia. Você ao menos tem uma jaqueta de couro. O rapaz pareceu perturbado e ela teve uma idéia: olha, se você tiver dois reais aí pode levar meu relógio. Ele afrouxou o abraço e lançou um olhar às pessoas que se amontoavam no abrigo da parada de ônibus. Ninguém tinha se tocado. Enfiou a mão no bolso da calça e puxou duas notas amassadas. Disfarçadamente ela tirou o relógio e o entregou. Ele baixou a cabeça e sumiu no buraco do metrô, enquanto ela disputava um espaço no ônibus quase aos tapas, espremida, aliviada e sem mágoas.

 

 


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

"A preguiça do querer"

Se na sociedade moderna se pensasse em termos de ciclos, a questão do tempo e a angústia gerada pela dificuldade de administrá-lo se diluiria. Entretanto, é de tal modo avassaladora a exigência do cotidiano que a falta de tempo pode, na realidade, traduzir a falta de vontade ou a fraqueza dela.
[.....]
A resistência ou a preguiça do querer faz com que se alegue a famosa "falta de tempo", que pode ser naturalmente a simples verdade, mas pode também representar um tipo de desculpa que justifique uma recusa sem causar mágoas inúteis. Muitas vezes, no entanto, essa desculpa se aplica a nós mesmos.
[.....]
De tão plausível por traduzir o mundo contemporâneo, a falta de tempo como desculpa é como um castelo de cartas que pode ruir a um mero contato com a sinceridade interior. Por mais asfixiante que possa parecer, é possível criar um espaço lúdico e desprovido de tensão chamado tempo. Tempo para si, tempo para o outro, tempo para desejar tempo. [....]

Trechos do artigo de Tuna Dwek publicado na Revista da Cultura - Outubro de 2013


quarta-feira, 9 de outubro de 2013

De Mário de Andrade para Oneyda Alvarenga

[.....] Eu creio que não tem nada que torne o indivíduo mais "feliz" do que ele se desenvolver e se realizar dentro das suas tendências pessoais. Seria longo demais pra eu escrever a você o que entendo exatamente por felicidade. Mas basta que lhe diga por hoje que, pra mim, a felicidade não está nos impedimentos que encontramos no caminho, não está nos sofrimentos pessoais, nem depende minimamente da realidade social em que vivemos, A felicidade é um estado do ser, que o normaliza em si mesmo, Pouco importa, mesmo que ele,  pro mundo, seja considerado um anormal, contanto que ele seja normal em si mesmo

[.....] Porque, veja bem, se a felicidade é uma realidade individualista, que nada tem com a realidade do mundo,  não creio que possa haver felicidade que não beneficie de alguma forma a realidade social a que pertencemos. Porque o homem sendo um ser social, as suas tendências fatalmente se referem não apenas ao indivíduo mas à sociedade dos outros indivíduos, também


Em  Mário de Andrade- Oneyda Alvarenga - Cartas - Livraria Duas Cidades, São Paulo, 1983..

Gal Costa - Vaca Profana



"Respeito muito minhas lágrimas mas ainda mais minha risada."

Diagnóstico


Até tu, "primeiro mundo" ? !!!



Fim de papo



Na milésima segunda noite,
Sherazade degolou o sultão.
 
 
 
Antônio Carlos Secchin, em Os cem menores contos brasileiros do século


sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Um homem deve ser o que parece ser. Quanto àqueles que não são o que parecem ser...Ah, se pelo menos não parecessem ser o que não são !

 
William Shakespeare, em Otelo