quinta-feira, 25 de março de 2010

Mar

Nasci humana e não sei caminhar sobre as águas. O vento tem um dicionário que desconheço. Seria melhor ter nascido peixe. Vida breve, olhos fixos, movimentos simples. Nasci humana e não posso encarar o sol. Gosto da idéia de nascer outra vez, animal leve, sem peso, que ao tocar a fiação das ruas, faça do gesto um rápido meio de transporte. Se eu tocar um fio, desmonta-se assim a ponte. E minhas mãos pressentem o abissal sem nome, o vazio que é ter nascido humana e sem guelras. Mesmo através do toque sobre finíssimas trilhas, qualquer descarga elétrica me derruba e vence. Nasci humana e agora é tarde.

4 comentários:

  1. Tem gente tão desumana rondando nossas vidas que às vezes dá vontade mesmo de ser um bicho.

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  2. por isso os budistas são felizes, mas não se preocupe...nossa imaginação e alguns pequenos truques, tipo escola de mergulho, e lá irá você a nadar com as tartarugas (para ficar em um exemplo que já rolou por aqui).

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  3. Ahhh. eu sou humana...e pretendo ser cada vez mais uma humanista...uma humanitára...mas nem por isso...esqueço de valorizar as outras formas de vida...
    Sou o que sou...como humana tenho minhas limitações...mas como pássaro...como golfinho...como borboleta...teria outras...
    por isso...só posso ser quem sou...o que sou...
    beijos
    Leca

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  4. é tarde! caberia uma frase à esse texto.
    "Perdi o jeito de ser gente. Não sei mais como se é." Clarice.

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