quarta-feira, 31 de março de 2010

Pasión



No me olvides
yo me muero
Amor
mi vida es sufrimiento
Yo
te quiero en mi camino
Por vos
cambiaba mi destino

Ay,
abrázame esta noche
aunque no tengas ganas
prefiero que me mientas
tristes breves nuestras vidas
acércate a mí
abrázame a ti por Dios
entrégate a mis brazos.

Tengo
un corazón penando
Yo sé
que vos lo está escuchando
Con
mil lágrimas te quiero
Pasión
sos mi amor sincero

Ay,
abrázame esta noche
aunque no tengas ganas
prefiero que me mientas
tristes breves nuestras vidas
acércate a mí
abrázame a ti por Dios
entrégate a mis brazos

Breu

foto de Gustavo Porto


BREU

Última luz
A iluminar o breu
De um coração
Que deveria ser teu

A Festa e o Dourado

Dourado veste uma camisa simplesmente horrorosa

Fui convidado ontem para uma festa de 50 anos de um velho e querido amigo. O apartamento estava cheio de convidados. No meio da sala, a TV ligada na Globo. E de repente o Pedro Bial começou a falar e falar e falar, a Ivete Sangalo começou a cantar, a cantar e cantar e os brothers começaram a dançar, a dançar e dançar e assim passou o tempo e as pessoas ficaram ali hipnotizadas, hipnotizadas e hipnotizadas. E vinha um comercial e  outro comercial e mais outro comercial. O  tempo passava e passava e passava  e a festa de aniversário foi para o espaço. O que interessava era apenas uma coisa: quem vai ganhar o BBB 10?

E ganhou o Dourado, mas quem é o Dourado?

Abortando Idéias.




Tal qual Sócrates se considerava um parteiro de pensamentos, ajudando aqueles que pensam que não sabem descobrirem que sabem mais do que pensam, me vejo num festival de abortos de idéias logo no início do meu curso. Quando se é crinaça se tem medo dos meninos da oitava, no primeiro ano você bate nos da oitava e tem medo dos do terceirão. No terceirão você não bate em ninguém, porque tem de estudar, e tem medo do vestibular. Tudo bem, você venceu o vestibular, todo mundo quer cortar seu cabelo, te chamar de calouro ou bixo mas você descobre que o vestibular é fácil, você tem medo dos veteranos, das provas chegando, do cara nerd que anda com uma faca no cinto, medo de parecer burro, medo de desistir e pricipalmente medo da prova de anatomia 1 que você vai ter depois suas 2 primeiras aulas, antes disso você só tinha visto ossos de bovino em churrascarias. Difícil mesmo é sair da universidade. Vejo talvez que o blog não seria tão interessante quanto eu pensava, até porque nele eu colocaria todos os dias, fui e voltei da UFLA, estudei todas as matérias possíveis, e aprendi matemática finalmente, mesmo que no curso de veterinária. A vida se resumiu a isso. Claro que eu num vou contar que meu primeiro porre da vida se deu logo com dois dias de liberdade. AHAUHAUHAUHAUHAUAHUAHAU. Mas afinal, a vida parece ser boa, existe algo além da Anatomia 1, e se fazem muitas coisas além de estudar na casa das "amigas". O difícil é sair, mas quem disse que eu quero ?! Uma nova fase, numa nova vida, escrever não sei se ainda será válido, até porque não sobra espaço pra imaginação. Agora me deem licença, tenho de lavar minhas própias roupas. Outra coisa, se alguém quiser doar um Lap Top, ou uma biblioteca de livors literários, eu to aceitando. De resto é só, você tem mais notícias minhas que minha mãe. Me desejem sorte. Quem ainda quiser um blogue comenta, não quero escrever para as moscas on-line.

Ajuste Musical ou Ain't this sweet?

(Little Jimmy Scott,"When Did You Leave Heaven")

Liberdade

Liberdade, esse bem essencial com que acordamos todos os dias e ao qual muitas vezes não damos o devido valor. Quem nasceu no meio dela, talvez não saiba dar  valor ao que outros passaram para que hoje possamos falar do que quisermos, com quem quisermos.


Aproveitar esse bem é também uma forma de prestarmos homenagem a quem o conseguiu. Não nos alhearmos do mundo, fazer o que gostamos com prazer, não nos deixarmos influenciar por outras coisas senão a procura do nosso bem estar e do daqueles que nos rodeiam, e lutar por aquilo que pensamos ser o melhor para todos. Pensamos...porque também podemos estar errados, mas isso faz parte da maravilha que é ser livre.

Amar, respeitar, ouvir, falar, criticar e sobretudo partilhar o nosso modo de ver o mundo para darmos um pouco de nós e recebermos um pouco dos outros.
 
Excerto do texto liberdade, publicado no devaneiosdeloucura.blogspot.com a 9/01/2010
 
E todos os dias isto é importante, gosto de lembrar que a nossa liberdade acaba onde começa a liberdade dos outros, respeitar os direitos fundamentais de cada um e sobretudo as suas ideias é a meu ver um principio básico.
 

terça-feira, 30 de março de 2010

Saúde...


"Saúde"...de Rita Lee

Me cansei de lero-lero
Dá licença, mas eu vou sair do sério
Quero mais saúde
Me cansei de escutar opiniões
De como ter um mundo melhor

Mas ninguém sai de cima, nesse chove-não-molha
Eu sei que agora eu vou é cuidar mais de mim

Como vai? Tudo bem
Apesar, contudo, todavia, mas, porém
As águas vão rolar, não vou chorar
Se por acaso morrer do coração
É sinal que amei demais

Mas enquanto estou viva e cheia de graça
Talvez ainda faça um monte de gente feliz

Como vai? Tudo bem
Apesar, contudo, todavia, mas, porém
As águas vão rolar, não vou chorar, não!
Se por acaso morrer do coração
É sinal que amei demais

Mas enquanto estou viva e cheia de graça
Talvez ainda faça um monte de gente feliz

Essa música...é meu mantra...
e não é de hoje...
Feliz...feliz...feliz...
Beijos
Leca

GENTILEZA



Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
A palavra no muro
Ficou coberta de tinta
Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
Só ficou no muro
Tristeza e tinta fresca
Nós que passamos apressados
Pelas ruas da cidade
Merecemos ler as letras
E as palavras de Gentileza
Por isso eu pergunto
À você no mundo
Se é mais inteligente
O livro ou a sabedoria
O mundo é uma escola
A vida é o circo
Amor palavra que liberta
Já dizia o Profeta


MARISA MONTE

Song for her - Manu Katché.




Achei bonito. Achei que devia partilhar.
Cheers.

A Loucura e a Solidão...


O que é solidão afinal...?

Hoje estou fazendo um trabalho...
sobre a representação da Loucura...
termo que aliás...mudou muito de sentido para mim...
Pensava que loucura era algo patológico...
penso hoje na loucura como algo absurdo
para minha compreensão...
sei que termos como loucura e solidão...
ainda vão mudar muito de sentido para mim...
ao longo dos dias...meses...e anos...
Solidão é se sentir sozinho...!?
Loucura é estar só...num mundo só meu...!?
O que é loucura e solidão no final...!?
O que é pra você a loucura?
o que é pra você a solidão?

Beijos
Ótima semana
Leca

segunda-feira, 29 de março de 2010

POESIA DE GLADYS FERREIRA


SUBMERSO

Escorre junto à nascente
em filetes
ou enchentes

e vaza...
bifurca,
multiplica,
expande
corre
grita...

Depende do chão
Depende da chuva
Depende do vento

Do assobio
Do tom
Da luz

dos olhos de cada um.


PS: Poesia de Gladys Ferreira e Imagem de Bruno Abreu

O teu sabor dá-me alento




Beijo a tua boca
e o teu sabor dá-me alento.
Sabes a manhã de sol,
sabes-me a  pura alegria
sabes a fruta madura
que me conforta e sacia.
vou cantando os teus encantos
nesta singela poesia
porque a saudade que sinto
não me vai tornar vazia
enquanto fechar os olhos
e o teu sabor cá estiver..
Sabes-me a um amor imenso
que o meu peito viu nascer
e que abraço com ternura
és meu
para o que der e vier.

Débitos Maniqueístas

foto de Bina Fonyat

Eis um poema do polêmico poeta português, Fernando Correia Pina. Eu lhes digo -- desde já --  que não concordo com essa forma de alimentar ressentimentos, antagonismos, amarguras e rancores. Acho que este poema peca pelo excesso de maniqueísmo. Ele simplesmente generaliza no sentimento de injustiça.  O poeta joga e manipula com as palavras tentando dar a elas um sentido de revolta ideológica. E como diz o meu guru, Luc Ferry, as religiões e ideologias fizeram as sociedades e os indivíduos sacrificar-se por ideais inúteis.

Mas publico aqui o poema de Fernando Correia Pina. Por que publico? Ora, caramba, para causar impacto. E os impactos são importantes -- porque fazem refletir.


Saldo Negativo

Dói muito mais arrancar um cabelo de um europeu
que amputar uma perna, a frio, de um africano.
Passa mais fome um francês com três refeições por dia
que um sudanês com um rato por semana.


É muito mais doente um alemão com gripe
que um indiano com lepra.
Sofre muito mais uma americana com caspa
que uma iraquiana sem leite para os filhos.


É mais perverso cancelar o cartão de crédito de um belga
que roubar o pão da boca de um tailandês.
É muito mais grave jogar um papel ao chão na Suíça
que queimar uma floresta inteira no Brasil.


É muito mais intolerável o xador de uma muçulmana
que o drama de mil desempregados em Espanha.
É mais obscena a falta de papel higiênico num lar sueco
que a de água potável em dez aldeias do Sudão.


É mais inconcebível a escassez de gasolina na Holanda
que a de insulina nas Honduras.
É mais revoltante um português sem celular
que um moçambicano sem livros para estudar.


É mais triste uma laranjeira seca num kibutz hebreu
que a demolição de um lar na Palestina.
Traumatiza mais a falta de uma Barbie de uma menina inglesa
que a visão do assassínio dos pais de um menino ugandês

e isto não são versos; isto são débitos
numa conta sem provisão do Ocidente.

Titia

Ela estava cansada, o imenso casarão era frio e trabalhoso. Sua única filha mimada e o marido despótico. O tédio era terminal e o arrependimento de ter se casado com ele visível. Embora fosse uma mulher na casa dos 30 anos e tivesse herdado uma quantia considerável, Vossa Excelência não permitia que ela fosse a qualquer lugar sem a sua presença e nem que dispusesse de seu dinheiro. O controle era doentio. Em uma ocasião, após ir ao cinema com a irmã, disse para o cunhado que ela somente entraria novamente naquela casa porque estava em sua companhia. Para superar as dificuldades agarrou-se a igreja. Deus iria lhe dar forças para superar a infelicidade e a monotonia. Não deu. Pelo contrário, as confissões ao padre passaram a lhe causar embaraço. Não sabia como demonstrar sua insatisfação, sem sentir-se envergonhada. Há muito sonhava com outros homens. Não podia mais nem ouvir a voz do marido. Ele também deu um jeito de afastá-la da sua família por inteiro. Brigou com todos, um a um. Para piorar as coisas, um dia, sem que fosse sequer consultada, o marido lhe informou que seu irmão viria morar com eles. Ela não pôde dizer nada. Ele jamais admitiria que uma ordem fosse questionada. Mandava e pronto. Resignada, ela preparou uma dos quartos do casarão para o cunhado. Embora modesto, ele era uma pessoa sensível e educada. Estava apenas precisando de ajuda pois o salário de funcionário público não era muito bom e havia sofrido uma grande decepção amorosa. Pelo menos essa foi a versão oficial contada aos amigos e parentes. Durante o primeiro mês nossa heroína, mesmo em casa, andava com roupas sóbrias e fechadas. Jamais atreveu-se a sair do quarto, sequer para pegar um copo d’água, sem que estivesse completamente vestida. Com o tempo a intimidade foi crescendo e com o cunhado começou uma amizade. Embora ele não tivesse a mesma posição social que o marido, era um homem com muitas qualidades. Seu corpo era bem feito, ele era simpático e mostrava-se sempre solícito a ajudá-la, o oposto do rabugento marido. Passou também a ser praticamente seu motorista, segurança e companheiro em todas as atividades externas, passeios com o cachorro, compras no supermercado, etc. A cumplicidade entre eles foi crescendo e o afeto também. Uma noite, após o jantar, ele se ofereceu para ajudá-la a lavar a louça. Foi quando acidentalmente suas mãos esbarraram pela primeira vez dentro da pia de água morna e cruzaram o olhar por quase um segundo. Desde então ela começara a sonhar com o cunhado. Nos seus sonhos vivia as mais loucas fantasias. Ela o amarrava na velha cama de ferro batido e o devorava por inteiro, tragando cada pedaço do seu corpo com força e violência. Ela o ebofeteava e o dominava. Tinha prazer em mordê-lo e queimá-lo com cera de vela. Gostava inclusive de penetrá-lo com seu dedo. Fazia com que ele sentisse muita dor antes de chegar ao prazer. Outras vezes ela sonhava que ele a possuía sobre a mesa da cozinha ou que por horas a acariciava somente com a língua e com a ponta dos dedos, para muito depois possuí-la. Quando tudo estava acabado ele dizia que a amava. Após seis meses nessa tesão ensandecida, ela estava decidida a tê-lo. Nesse ponto, o destino de nossa personagem poderia ter tomado diversos caminhos. Deixo para vocês apenas dois dentro dos diversos possíveis. No primeiro final, ela seduz o cunhado, e passa a ter com ele encontros furtivos durante a tarde. Depois, como não dava mais para segurar, passaram a se encontrar à noite mesmo. A configuração dessa relação como um casal ficou tão evidente durante os anos que seguiram, que os sobrinhos-netos e conhecidos pensavam que ela era casada com o cunhado. Mesmo após a empregada de longa data ter contado para marido que à noite nossa heroína ia para o quarto do cunhado, ele nada fez. Quando um dia, a filha mimada já adulta finalmente tomou coragem e disse para o pai que isso não poderia continuar, que era imoral, ele respondeu: “Nunca repita isso, sua mãe é muito braba”. Conviveram todos muito felizes nessa relação por cinquenta anos. Adotaram inclusive uma filha, registrada apenas pelo cunhado evidentemente. No velório do cunhado, uma sobrinha indiscreta lhe pergunta: “Titia, ele a amava?” Resposta: “Acho que sim.”. Acho esse final totalmente inverossímel, poderia um ser tão prepotente quanto Vossa Excelência concordar com isso por tantos anos? E um ser tão submisso ter dado essa volta por cima? Que estranho acordo concluíram aquelas três pessoas aparentemente tão felizes? No segundo final, nossa heroína vai para cima do cunhado, passa a assediá-lo. O pobre diabo sua bicas, diz que não poderia trair a confiança do irmão, que ainda estava preso ao antigo relacionamento e que por isso não se entregaria a nenhuma outra mulher. Como ela era determinada, ele foge acuado, evita ficar sozinho com ela em casa, até que muito constrangido lhe confessa que é apaixonado pelo jardineiro. Viveram então os três eternamente infelizes por muitos anos. O jardineiro chutou o cunhado logo depois.

domingo, 28 de março de 2010

Né Ladeiras

É uma excelente notícia: Né Ladeiras, uma das cantoras portuguesas mais interessantes, responsável pela gravação de um dos meus discos preferidos em português, iniciou hoje - finalmente - a gravação de um novo disco. Aguardo com expectativa, mas seguríssimo quanto à qualidade do resultado final.

Chapeuzinho Vermelho...


Ilustração de Gustave Doré (1832-1883) para o livro “Contos de Perrault”...edições Stahl-Hetzel...1862

Obrigada pelos comentários...adorei...
Só pra continuar...a história...

A versão original da Chapeuzinho Vermelho...é de Charles Perrault...e nela o lobo é quase sempre uma metáfora para o homem sexualmente predador...A maioria das versões posteriores procura omitir a conotação sexual do convite do lobo disfarçado de avó: “Venha deitar-se ao meu lado”...
Mas como nos mostra Doré em sua ilustração... Charles Perrault conta a história de modo realista...confirmando seu conselho de que não se deve falar com estranhos...
Na história original não aparece caçador algum...e o lobo acaba por devorar a menina.
A moral da história é que devemos ver bem em quem e como confiamos...e isso é o que determinará as conseqüências que sofreremos...

Então pensando bem...tanto faz...homem...lobo...príncipe...sapo...
E pros dias dias de hoje também é preciso tomar cuidado...com...
princesas e lobas...

Beijosssssssssssssssss

e ótima semana pra todos

Esplanada


Naquele tempo falavas muito de perfeição,
da prosa dos versos irregulares
onde cantam os sentimentos irregulares.

Envelhecemos todos, tu, eu e a discussão,
agora lês saramagos & coisas assim
e eu já não fico a ouvir-te como antigamente
olhando as tuas pernas que subiam lentamente
até um sítio escuro dentro de mim.

O café agora é um banco, tu professora de liceu;
Bob Dylan encheu-se de dinheiro, o Che morreu.
Agora as tuas pernas são coisas úteis, andantes,
e não caminhos por andar como dantes.

Manuel António Pina

[imagem: tenho imensa pena de não saber o seu autor]

Mi nina Lola



Concha Buika


Definições definitivas...


...não existe esse negócio de terceira idade. Só existem duas opções: vivo ou morto!

Se Arrependimento Matasse




Se arrependimento matasse
eu estaria morto.
Quando visitei a DDR em 1986
achei tudo cinza de tão triste.
Entrei na livraria oficial e
comprei as obras do Lenin
tradução para o português.
Um livro de capa vermelha
editado pela editora oficial.
Foi ali que meu sonho socialista ruiu.
Mais tarde - no auge da desilusão -
doei o livro para alguém
que não me lembro.

Inspirado no post "Livros para que te quero" do Blog da Bípede Falante.

Ignacio Vázquez- Truganini, la última tasmaniana

Baily, H. H. Queen Trucanini [i.e.Truganini], last Aborigine of Tasmania] [picture]

A Patricia Rocha

Existiendo millones de hispanoparlantes, no consigo imaginar cómo me sentiría si fuese, por días, por meses, por años, el último hablante de español. No se trata de no hablar más con mis abuelos, muertos hace más de 30 años; no de no hablar más con dos amigos entrañables que ya no están; no de no hablar más con gente que cambió de ciudad o de país. Esto es algo más radical:no hablar más el español, no volver a escucharlo, que alguien que habla una lengua extraña vaya anotando las palabras que me acuerdo para componer un diccionario. No tener a quien preguntar. No tener a quien pedir. Que no exista nadie que pueda escuchar mi secreto. Que un alto paredón de sordera semántica se levante entre el mundo y mi oído interior. Que sólo yo entienda los juegos de palabras.

A veces, en los aeropuertos o en las calles de otro país, escuchar hablar en español o adivinar un acento hispanoamericano borra nuestra timidez: nos presentamos, preguntamos o ya adivinamos de dónde es la persona que habló en español, nos alegramos del mutuo alivio de convertirnos en una pequeña isla de inteligibilidad, contamos nuestras vidas. Imagino que la vida de esta mujer de Tasmania, Truganini, habrá sido, a partir de algún momento preciso la infinita, sombría y sofocante imagen contraria: una mujer que espera, perpetuamente, en un aeropuerto donde ningún tasmaniano hará su check-in, o en calles donde ningún tasmaniano irá consultando una guía Michelin o sacando fotos.

La depresión, el vacío, la náusea de Sartre tuvo-tiene- lectores, comentaristas, exégetas,traductores y epígonos. Procuro entrever un existencialismo marginal, mucho más crudo y, lo que es peor, definitivo. Sartre, al menos, tenía para quien escribir. Imagino a Sartre explicándole a Truganini que el hombre es un ser en sí para sí. Imagino, entonces, la cara de Truganni.

Imagino a Michel Onfray explicándole a Truganini que una política libertaria exige un cambio de perspectiva; y que si ella no entiende que eso implica poner la política bajo el yugo de la ética, quiere decir que ella no entiende nada. Imagino, también, la cara de Truganini.

Imagino a Martin Heidegger preguntándole, a esta mujer sufriente, por qué existe el ser y no más bien la nada.

Imagino la boca de Truganini abriéndose de asombro para luego pedirle que repita la pregunta en su lengua.

También imagino que Truganini entiende la pregunta y se abstiene, por vergüenza ajena, de responder.

sábado, 27 de março de 2010

O lugar ao sol

Procurar o lugar ao sol...não é isso que tentamos fazer todos os dias? E hoje é só mais um dia em que saio à rua mas completamente diferente de todos os outros que ficaram para trás. Porque hoje eu quero o meu lugar ao sol muito mais do que queria antes e muito menos do que vou querer depois. Porque mereço o meu lugar ao sol. Porque tenho feito por isso incansavelmente, mesmo que por vezes demasiado exausta para o perceber. menos racional, mais apaixonadamente querendo ser feliz. Querendo fazer feliz aqueles que me rodeiam. Bom dia mundo...


Um lugar ao sol - Delfins




O Lobo Mau...


ilustração de Cory Godbey...

Príncipe Encantado ?
Bom mesmo é o lobo mau...
Que tem olhos grandes...e me vê melhor...
Que grandes orelhas...e me escuta melhor...
Que tem...Que me...
E perto de mim não é mais mau...

Beijos

Ótimo final de semana pra todos...

Leca

sexta-feira, 26 de março de 2010

A VIDA É SONHO

Pode apostar: se esses poucos versos ficarem na sua memória, em alguns momentos durante o dia, talvez durante a noite, você terá vontade de dizê-los em voz alta.


Que é a vida? Um frenesí.
Que é a vida? Uma ilusão,
uma sombra, uma ficção;
o maior bem é tristonho,
porque toda a vida é sonho
e os sonhos, sonho são.

Trecho do monólogo do personagem Segismundo, na peça A vida é sonho, de Calderón de La Barca, tradução da poeta Renata Pallottini.
Ilustração: Rafal Olbinski.

Amor inquebrável



É sonho que se transforma em corpo pequeno, enrugado e guloso. É peso que carregamos permanente durante meses e que se torna independente mas sempre presente, sempre carente. É amor na expressão pura do ser-se nosso mas outro.É o nosso cheiro com diferentes nuances que transformam os nosso sentidos em sentinelas sem folgas. É alegria, dor, nostalgia, amor, é dar e receber sem noções económicas de trocas. É, só pelo simples facto de ser, inexplicável e imenso, nosso e de outro, inquebrável e intenso. Verdadeiro e incorrompível, diferente em cada ser mas sem dúvida um presente. O amor parental, biológico ou apenas de coração porque a diferença entre um e outro só existe nos corações pequenos.


originalmente em devaneiosdeloucura.blogspot.com e porque ultimamente muito se tem falado por aqui sobre amor paternal/maternal

É Só Trocar de Canal

Quem não está satisfeito com o comportamento da mídia brasileira no caso -- grave -- do casal Nardoni  que pegue o controle remoto e troque de canal.
Por favor, deixem a sociedade brasileira refletir -- e é bom fazer este povo pensar--  acerca de um crime bárbaro que chocou a nação.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Definições definitivas...


O filme sempre começa na hora certa, principalmente quando você chega atrasado.

Homenagem...



Este texto é do querido Luis Felipe...
Do blog...

http://sabugando.blogspot.com/

É ler pra crer...

...Puxando de volta à mediocridade...

"Já reparou que quando você tem o impulso de fazer algo bem legal ou diferente, não faltam pessoas pra te criticar ou te difamar na sua ausência?
Sempre foi e sempre será assim, é natural do ser humano, ele vive em grupo e inconscientemente trabalha com rigor para manter, proteger o grupo.
Você tem uma idéia, uma boa idéia, muitos te atacarão, irão contra você, terão inveja.
Peraí, que que é esse sujeito destoando do grupo, pensando diferente, volta aqui, não se atreva a sair desse nosso nível.

Muitos desses críticos, são pessoas extremamente próximas, e não cortam suas asas por mal, é como eu disse, algo inconsciente. Eles até se surpreendem por estarem nutrindo pensamentos ruins com relação à você, evitam sua presença porque não querem enfrentar o conflito interno de te amar muito e ter vergonha do que está pensando sobre quem sempre gostou.
Existe uma frase muito legal que eu li certa vez: Deus gosta muito de seu rebanho, não quer perder suas ovelhas a esmo, por isso coloca obstáculos ao conhecimento.
E pense comigo, não há nada de religião nisso, todos nós tendemos a seguir a maioria, o vigente, aquilo que nossa tribo faz. Tentar compreender, buscar as razões verdadeiras pode ser muito perigoso, desagradar muita gente.
O grupo nos preserva, mas muitas vezes nos cega."

CANÇÃO DE EXÍLIO FACILITADA


lá?
ah!

sabiá...
papá...
maná...
sofá...
sinhá...

cá?
bah!


(José Paulo Paes)


Imagem: "Canção do Exílio", por Roberto's.
(www.flickr.com)

Navegar



Perdi o barqueiro navegando entre as estrelas duma paixão. O rumo na noite escura é iluminado somente pelo fogo do meu coração que me indica como nortear minhas velas, qual estrela polar sempre presente.
Seu pulsar palpitante é motor do meu barco sempre que o vento teima em não soprar. Porque recuso-me a ficar parada nas águas escuras, navegarei sempre até ao nascer do dia mesmo que  não saiba onde estou, quem sou, ou como aqui vim parar. Nada disso me importa, importa-me navegar, ver o teu rosto espelhado nas aguas calmas como se fosses um sonho e aguardar o meu porto, onde deixarei tua imagem ancorada até que te encontre enfim ou te perca para sempre como se fosses uma estrela que teima em não brilhar para mim.



a 5 /03 /2010 em devaneiosdeloucura.blogspot.com

Ana Moura


Protegida de Prince. Convidada dos Rolling Stones.
Uma fadista a sério.

Não hesitava um segundo.

Mar

Nasci humana e não sei caminhar sobre as águas. O vento tem um dicionário que desconheço. Seria melhor ter nascido peixe. Vida breve, olhos fixos, movimentos simples. Nasci humana e não posso encarar o sol. Gosto da idéia de nascer outra vez, animal leve, sem peso, que ao tocar a fiação das ruas, faça do gesto um rápido meio de transporte. Se eu tocar um fio, desmonta-se assim a ponte. E minhas mãos pressentem o abissal sem nome, o vazio que é ter nascido humana e sem guelras. Mesmo através do toque sobre finíssimas trilhas, qualquer descarga elétrica me derruba e vence. Nasci humana e agora é tarde.

ISABELLA

“Resquiet in pace”, pequena,
pois aqui, pessoas em cubos,
invariavelmente empilhadas,
faces ocultas de luas mortas,
humilhantes, humilhadas,
orbitando idéias podres e tortas,
escondidas entre os muros,
no espetáculo deprimente
da mídia insana,
demente,
cumprimentam-se aos murros
posando de bacana,
vendem almoço para comprar janta,
em frente da televisão,
qual uma planície cheia de Anta,
estão com o prato cheio de sangue na mão.
“Resquiet in pace”,
pequena flor de jambolão.



Publicado originalmente em 23/04/2008    aqui

quarta-feira, 24 de março de 2010

Ilusão



Quantas vezes no meu dia...
eu não vejo o que enxergo...
será tudo ilusão???

Eu não sei


Eu não sei como perdoar aquele que não pede desculpas e que não sente remorso e nem mesmo vergonha.
Eu não sei como perdoar aquele que pede desculpas, que sente remorso e que sente vergonha.
Eu não sei perdoar. Você sabe?

A faca de prata.

Sempre que podia, ele carregava consigo essa faca que fora de seu pai a antes de seu avô. Não era uma faca cara, grande ou rara. Cabia no bolso interno do seu casaco de couro. Tampouco serviria como proteção em caso de assalto. Até a fina camada de prata já havia praticamente desaparecido. Mas ela esteve sempre presente nos bons momentos em família, nos churrascos com os amigos, nos galpões crioulos, e inclusive em alguns casamentos festejados à moda gaudéria. Mais importante do que isso, era uma herança de família, uma tradição de pai para filho. Dizia seu avô que ela pertencera a sua tataravó que com essa faca havia matado um homem que se escondera embaixo de sua cama. Isso deveria ser lenda, mas tornava a história daquela faca ainda mais interessante. Enquanto caminhava em direção ao Parque da Redenção lembrou que essa faca que passara por tantas mãos diferentes e havia tantas vezes descascado fumo, uma maçã ou cortado uma picanha, ainda era útil. Ontem mesmo, pescara um coração de galinha com a ponta. Às vezes era como se ainda sentisse o calor das mãos dos seus antepassados naquele pequeno instrumento de metal. Gostava de segurar no cabo por debaixo do casaco e sentir a presença deles. Entrou no parque, caminhou em direção ao pequeno chafariz situado dentro de um círculo de árvores e lá estava sua mulher com o pequeno Schnauzer a dar a volta da tardinha. Pensou que seria tão fácil matá-la. Um único golpe no estômago seria suficiente. Não havia ninguém ao redor, uma única testemunha. Poderia simular um assalto sem qualquer dificuldade. Retiraria da bolsa sua carteira, e deixaria o resto jogado no chão. Chegou perto dela que lhe sorriu amistosa sem jamais imaginar o que lhe passava na cabeça. Ela abriu os abraços e ele a abraçou. Sentiu seu corpo delicado e longilíneo como se fosse a última vez. Puxou-a com força e a beijou com paixão. Por que matá-la? Ele a amava tanto. De repente, ele sentiu algo queimar-lhe a barriga. Ela tão frágil chorava e sorria.



Baseado em um conto de Philippe Delerm e em algumas lendas gaudérias.


Oscar Kokoschka - Veronicas's Veil

Nem a Primeira e Nem a Última


Colocou o vestido preto, os óculos escuros e chegou cedo. Postou-se ao lado do caixão. Não conseguiu chorar nem se emocionar. Na hora da cerimônia ouviu quieta o que disse o padre que abençoou o cadáver. Acompanhou o cortejo até o túmulo. Recebeu de todos os votos de pêsames. Já exausta pegou o taxi e foi para casa. Tomou um longo banho e colocou o roupão. Era preciso arrumar,  limpar, colocar no lixo: o prato de sopa, a colher e, sobretudo, o tempero discreto e forte que derruba até cavalo.

Ajuda títulos de blog.

olá amigos,

venho aqui pedir ajuda a vocês. Vou mudar de cidade parea estudar e consequentemente morar sozinho. Por isso queira fazer um blog, mas precisava de mais títulos. Vou sair de curitiba e estudar em Lavras medicina veterinária.Coloque as dicas nos comentários

E Agora Seu Zé ?
Expresso Lavras
Terra à Vista
o buraco é mais embaixo
Pode Ir Embora
Agora é por minha conta
Diário de Bordo
Última chamada
Welcome to Lavras
Simplismente Sozinho





Ajudem aew plz

Definições definitivas...


Habitue-se a chamar o seu cônjuge sempre de "Amor". Assim não corre o risco de chamá-lo pelo nome da outra ou do outro.

Carta para o Miguel


Sabes, Miguel, não gosto de António Gedeão como gosto de Herberto Helder. Claro que não!Como te disse, descobri António Gedeão com nove, dez anos, era ainda uma criança.
Foi na biblioteca. Descobri-o num livro. Num poema. Numa lágrima de preta.
E foram muitas descobertas numa.
Já tinha lido outros poemas. Nos livros lá de casa. No meu livro de português.
O meu livro de português tinha poemas que, ainda hoje, sei de cor e salteado, como nunca soube a tabuada.Tinha um poema pequenino, cinco linhas, talvez. E nessa altura - já te disse isto - eu achava que poemas eram poucas palavras a dizerem muitas, muitas coisas.
Nesse tempo, eu achava também que poemas eram escritos que adivinhavam coisas nossas. Talvez porque aquele poema - o do meu livro de português - tinha uma coisa que eu também tinha. E só eu sabia disso. E, então, pensei que poemas e segredos eram a mesma coisa.
Mas nunca um poema, por aquela idade, me soube tanto a palavras para dizer, como aquele, do António Gedeão. Dei conta que as palavras faziam música.
Nunca um poema fora, para mim, palavras para ler em voz alta.
Depois de ler lágrima de preta, achei que um poema devia ser sempre sentido em voz alta. E achei mais: achei que um poema era uma coisa útil. Tal e qual um objecto útil que nos facilita a vida. Foi, assim, com lágrima de preta. Descobri António Gedeão e foi com António Gedeão que descobri o que era um pseudónimo. E achei aquilo divertido. E descobri que, afinal, todos temos pseudónimos dentro de nós. Que revelamos ou não. E, essencialmente, achei que ele fez bem, porque acho Rómulo um nome feio. Foram muitas as descobertas. Tinha talvez dez anos.
Eu não gosto de Herberto Helder como gosto de António Gedeão.
Descobri Herberto Helder numa livraria. Num livro. Num poema.
Num não sei como dizer-te que a minha voz te procura.
E foram muitas descobertas numa.
Já antes tinha lido poemas. Nos livros, em minha casa. Nos livros das livrarias.
No meu livro de quinhentas e setenta e uma página de poemas, há um poema que me faz emudecer.Por isso, eu nunca o vou poder ler em voz alta. Só sentir.
É um poema que acontece, que teima em acontecer até ao milagre.
Daqueles poemas que mantêm segredos. Secretos, seguros. Poemas com guelras. Poemas que adivinhavam coisas nossas. Poemas raros de carne e rosa.
Poemas de muitas palavras, a fazer sentir coisas únicas.
Mas eu regresso sempre ao não sei como dizer-te que a minha voz te procura.
Foi com Herberto Helder que descobri a poesia toda. E achei aquilo tudo. Terno. Eterno. Violento e voraz. Mas nunca um poema, por aquela idade, me soube tanto a suor. Dei conta que as palavras faziam amor.
Depois de ler não sei como dizer-te que a minha voz te procura, eu achei que quem não o lesse, seria certamente infeliz. Mas, depois, dei conta que isso de ser feliz ou infeliz é patético,quando o assunto é aquele poema. E outros.
Foram muitas as descobertas. Tinha talvez vinte anos.

terça-feira, 23 de março de 2010

Definições definitivas...


A realidade é dura, mas ainda é o sítio onde se pode comer um bom bife.

O Anjo Desafinado

.

Uns me chamam de Vieira, outros de Jobim, até de Carlos me chamam, mas meu nome pode ser António. António simplesmente. É difícil não, ser só António? Uma alma que fala deve ter nome, então, o meu é simples: António! - Simples, de muitas luas e estrelas, António.
Não sou desses anjos aí que protegem e desprotegem à vista desarmada, não pertenço a nenhuma brigada de bombeiros protectores de coração e vista, dia e noite. Não tenho clube no céu nem filhos na terra. Ando por aí, aterrando em qualquer árvore do lado de cá do mundo, na visão de passarinho que canta em qualquer fonte, de rico de pobre. Meu nome é António. Toda a gente procura seu anjo, mas não encontra, pois eles estão aí por todo o lado, aguardando toda a gente que não espera, amando eternamente todo o estranho, passeando por onde não alcança a vista. Mas meu dever não é de anjo, nem de bom nem de vilão. Meu emprego terreno não tem claras evidências, não tem ninguém para enganar, ninguém para proteger, nada de penas ou remorsos. Não tenho nome pomposo, mas apenas António. Toda a alma tem nome e número de identidade, toda a alma canta e ri e navega por aí, onde ninguém mais quer navegar. Está no outro e no lado de cá do mar, tal como anjo de nome pomposo, mas alma mesmo não tem dono e tem todo o tempo do mundo para sonhar, para rir ou chorar. Alma não tem trono, alma não tem dono. Tem ciclo de tempo, anda de cá para lá, disputando lugar seguro em coração desperto, tem direcção, caminho, mas não tem regra no Zodíaco, não tem regra de planeta ou de esfera celeste. Tem nome António, quanto basta para não ser nem ignorante nem ignorada. Alma é contente por conter o nada, alma navega por onde é preciso, por aqui por lá onde quer que o aqui seja. Alma é preguiçosa, precisamente! Anjo não aprende nada, alma não depreende nada; está tudo tão claro diante do olhar que até a vela se cega no breu. Claramente, dessa claridade adiante falarei. Juro, mas jurado não. Alma não jura; quando muito mente e desmente a escura escuridade. Alma é luz, anjo alumia. Alma acorda, anjo vela o sono do vagabundo. Alma dá de vida o que anjo cuida.
[…]

Março de 2009

[nota breve: este texto, guardado há algum tempo, nunca o editei em qualquer dos meus blogs. Assim, sem aquela pompa da própria palavra, é inédito… embora jure que não entendo por que se entende ressalvar assim, um breve texto; afinal não é mais que isso, para quem apenas procura umas palavras mais, para construir mais mundo. A imagem, foi trabalhada por mim, também, sobre uma popular imagem do Mestre Tom, em diversas texturas.]

A vela


A sala estava vazia. Ao meio uma vela acesa, sem sinal de qualquer brisa ou movimento. Nada mexia naquela sala vazia, apenas a luz bruxuleante da vela, que ardia aparentemente sozinha no meio da sala.
Subitamente algo se mexeu. Ninguém sabe definir o que foi, só a luz da vela deu sinal. Que à passagem acusou a deslocação do ar e quase se apagou.

Numa das paredes a lareira já há anos que estava preperada, com lenha, com pinhas, com tudo.
A vela mudou de posição como se algo a movimentásse no ar, mas não se via nada. Atirada para a lareira, iniciou o lento arder da pinha, preparada que estava para aquela ocasião. Da pinha a combustão passou à lenha e a lareira ardia agora., aquecendo a sala e iluminando-a como nos tempos em que por ali andava gente.

Desintegração


Remova sua bagagem para um canto no lado de fora. Jogue em uma lata de lixo o seu pó e o molho de chaves. O seu espaço está desocupado sem parecer vazio. A casa e a família estão inteiras e não quebradas como você gostaria. O pão quente e o café com leite continuam sendo colocados e saboreados à mesa. Estamos todos sentados em nossos lugares, não importa em que endereços. A conversa segue perfumada, não envelhece ou se ressente com a diversidade dos nossos diálogos. Ao contrário, cresce espontânea por usar verbos livres de anomalias.

Os Americanos São Malucos


Charges criticando o Obama's Health Care


Definitivamente,  não  é fácil entender a lógica americana. Como é que um cidadão residente no pais mais rico do mundo não tem direito aquilo que é básico? Ao serviço de saúde universalizado? E o mais inacreditável, tem gente que é contra isso, porque entende que não deve haver qualquer tipo de  intervenção estatal na vida das pessoas, dos particulares. Eu também sou contrário em algumas hipóteses, mas nunca nesse nível. O partido republicano americano votou em massa contra essa medida de universalização dos serviços de saúde, isso nunca aconteceu antes. Incrível,  parte do povo americano  sai às ruas para protestar, porque a medida aumenta os gastos públicos e a intervenção estatal. Eles acham que o presidente Obama está socializando os EUA. Besteira pura. Paranóia das grossas.  Isso não tem nada de socialismo, isso é direito universal à dignidade humana e boa qualidade de vida. Parabéns ao Obama e aos Democratas.

Não confio mais no sedex


Há dias tento escrever este texto, mas não consigo. Não sei se devido à minha frustração com o assunto, ao fato de eu chorar toda a vez em que penso nele, à minha profunda sensação de impotência... Vou tentar mais uma vez vencer o bloqueio, e escrever.

Aconteceu comigo: enviei por sedex, de Maceió para Salvador, quatro livros originais escritos nas décadas de 1940 e 1950 pela poeta Jacinta Passos, minha mãe: Nossos poemas, Canção da partida, Poemas políticos e A Coluna. Preparo a edição completa da obra dela, acompanhada de biografia e fortuna crítica, a ser publicada em breve pelas editoras da EDUFBA e Corrupio. A certo momento dos trabalhos, foi necessário comparar os poemas originais dos livros com o texto em page maker, pois nessa transposição costumam acontecer mudanças nos espaços entre as estrofes.

Enviei então os livros de minha mãe para a editor Bete Capinan, em Salvador. Havia pressa, e eu não tinha por que me preocupar, pois sempre confiei nos Correios, principalmente no sedex, serviço que cobra caro justamente para entregar as encomendas rápido e em segurança.

Então começou meu pesadelo. Alertada por Bete de que o pacote não chegara, rastreei-o no site dos Correios, encontrando a informação de que havia sido encaminhado para refugo. Por telefone, fui informada de que, para os Correios, “refugo” quer dizer encomenda encaminhada para… destruição! Sem entender nada e apavorada, liguei imediatamente para Bete, pedindo a ela que fosse rápido à agência dos Correios em Salvador, pois os livros poderiam ser destruídos a qualquer momento, sem que nem soubéssemos por quê. Ela não pôde fazer muito: os Correios consideram que, até ser entregue, a correspondência pertence ao remetente, não ao destinatário, e portanto apenas eu, não ela, tinha direito a saber algo. O argumento lógico de que eu me encontrava em outra cidade, e ela, destinatária, igualmente interessada na encomenda, é que estava ali em Salvador, não sensibilizou ninguém. Graças apenas a uma boa conversa pessoal, Bete conseguiu que uma funcionária procurasse e lhe mostrasse a caixa onde eu havia enviado os livros: estava despedaçada e, dentro dela, havia um… relógio!

Nesse meio tempo, eu preenchia no site dos Correios um “pedido de informação”, a única providência que um usuário que se sente lesado pode tomar, acreditem. E deveria aguardar 5 dias úteis pela resposta dos Correios. Essa resposta só chegou muito depois do tempo previsto (os Correios alegaram que mandaram a resposta por e-mail, mas o fato é que não a recebi). Acionar a Ouvidoria do órgão também de nada ajudou, pois não obtive resposta ao meu pleito.

Para encurtar a história, os Correios me informaram que meus preciosos livros – publicados há mais de 50 anos, em edições esgotadíssimas, e que para mim têm um valor sentimental incalculável, pois foram escritos por minha mãe, já morta – foram roubados do caminhão (isto mesmo, caminhão, embora haja voos diários entre as cidades) que os transportava pelos 600 km que separam Maceió de Salvador. Durante o assalto, vários pacotes teriam sido roubados, desviados e/ou danificados. Esse serviço de entrega por caminhão – que, fiquei sabendo, é usado em várias partes do Brasil – é terceirizado. O grande argumento dos funcionários dos Correios que comigo conversavam por telefone era: “Mas o roubo não aconteceu nas dependências dos Correios!”, como se a instituição não fosse a responsável pela entrega final do pacote. E ainda comentavam: “Pois é, minha senhora, este país está uma coisa horrível mesmo, cheio de assaltos...”

Enquanto eu estava na agência daqui me informando sobre o assunto (quantas horas, quantos dias perdidos de pura tensão, para nada!), vi um funcionário dos Correios – ou de empresa terceirizada, não sei – recolher o sedex daquele dia da agência: ele, que dirigia uma perua como a da imagem deste texto, estacionou em frente á agência, abriu as portas da perua – deixando à mostra os outros pacotes que lá estavam – e entrou na agência, passando a carregar para a perua, um a um, os pesados sacos contendo as encomendas sedex. Ao terminar, fechou as portas do veículo, retomou o volante e partiu para repetir a mesma tarefa em outra agência. Nem ele nem a carga (muitas com objetos de valor, todo mundo sabe disso) recebiam qualquer proteção.
O que eu posso fazer? Segundo os Correios, levar cópias de vários documentos meus até a agência onde postei o pacote, preencher lá minucioso formulário, e aguardar até que me devolvam o dinheiro que gastei na postagem, acompanhado de cinquenta reais. É, cinquenta reais.

Decidi acionar judicialmente os Correios. Meu interesse não é tanto o valor pecuniário que acho que me devem por não terem cumprido seus serviços (minha perda é incalculável), mas o fato de – descobri ao conversar com diversas pessoas sobre o assunto – os desvios de encomendas sedex serem hoje frequentes. Muita gente, de vários estados, me contou ter passado pelo mesmo problema. Suas perdas foram enormes – desde objetos de valor, como laptops, que por isso mesmo foram enviados por sedex, até perda de inscrição em concurso público, passando pelo extravio de um remédio urgente, destinado a alguém que muito precisava dele.


Pelo que me foi dito, os desvios de cargas do sedex têm sido constantes. Acho que os Correios devem ser responsabilizados por isso, para tomarem uma providência. Acho que todos os prejudicados devem entrar na Justiça, por mais aborrecido e tenso e trabalhoso que isso seja. Pois pode ser a única brecha que nos deixaram para chamar à consciência uma instituição que já foi sinônimo de qualidade no Brasil, e hoje pode deixar de cumprir obrigações, lesando seus usuários, como aconteceu comigo.

Eu não confio mais no sedex.

muito linda...


Para fãs da Leica, um modelo digital com ar de antigamente é o M9. Lançada em conjunto com a Kodak, a câmera traz 18 megapixels de resolução, visor LCD de 2,5'' e pode ser usada com lentes Leica da série M de 16 a 135mm. Preço: US$ 6.999...
Então, parece que a moda pegou. Moderno com cara de véio kkkkkkkkkkkk A mim, basta olhar no espelho. 
 
FONTE: UOL

segunda-feira, 22 de março de 2010

A Ingrata

- Sempre fui boa. Não entendo por quê o mundo é tão cruel comigo. Fui boa filha, boa esposa, boa mãe, e as pessoas foram tão más, tão ingratas. Me apelidaram até de chatinha. Meus filhos homens só pensam nos próprios umbigos. Casaram-se com aquelas moças esnobes que sempre torceram o nariz para mim. Não tenha filhos homens, eles não cuidam da gente. Minhas filhas também não serviram para nada. A Diana não foi nem ao enterro do pai. Desde jovem era uma Messalina no cio. Foi amaldiçoada com o dom da beleza. Espíritos obssessores passaram a rodeá-la ainda menina. Quando chegou a mocidade foi tomada pela pomba gira. Homem algum conseguia resistir aos seus encantos. Até a minha Santinha, a quem dediquei todo o meu amor, me abandonou. De uma hora para outra deu para gostar de homem e se casou com aquilo que você viu agora há pouco, me deixando sozinha. Graças ao bom Deus casei com o meu marido. Não vi homem mais ruim. Depois de velho, me abandonou. Como eu sou muito boa, mesmo assim fui visitá-lo no leito de morte. Me olhou assustado e, com um último esforço, já que não podia falar, me ergueu o dedo. Até hoje não sei por quê ele foi embora. Por um somenos saiu de casa. Mesmo assim, isso foi bom. Paguei todos os meus pecados, resgatei todas as minhas dívidas e na próxima vida vou renascer em um planeta mais evoluído, rodeada de espíritos de luz. Deus que me perdoe por dizer essas palavras, mas meu fim está perto e preciso desabafar. Sabe, na minha religião não nos confessamos, e sinto uma vontade de falar.

- Acho que não estou adequadamente vestida. Ao vê-la tão elegante em seu vestido de gala e rodeada por margaridas, acho que minha jaqueta tigrada não está muito bem. Como ela fica serena assim dormindo. Parece tão doce. Pena que já esteja amarelada. É melhor fechar o caixão antes que comece a feder. Você me leva em casa rapidamente para trocar de roupa? Ah, agora sim. Ficou muito melhor. Essa jaqueta é chiquérrima. Toda em “patchwork” da mais pura seda. Ganhei de um alemão lindo na Europa. Que homem. Ainda bem que a Santinha ainda não chegou. Não queria que ela me visse mal vestida. Ela sempre teve uma inveja doentia de mim. A coitada sempre foi feia, e por isso a preferida da mamãe. Eram a imagem e semelhança uma da outra. Mulher feia é um perigo. Dizem que casou virgem aos 40 anos. Bem feito. Eu, eu sempre fui linda. Casei com um homem que me cobriu de jóias e vestidos. Me deu até um Porsche. Mesmo depois de separados continuamos amigos. No último Natal, me presenteou com um cruzeiro pelo Caribe. Ela e a mamãe nunca agüentaram a minha beleza, o meu sucesso. Sempre foram feias e invejosas. Minha beleza tem sido um fardo na minha vida. Todas as mulheres me odeiam. Em compensação, os homens me adoram. Há alguns anos comecei a contar e já eram mais de 200. Depois, parei de contar.

- Você viu a Diana? Até que ela está bem. Continua bonita, o tempo não passa para ela. Impressionante. Agora está ruiva. Da última vez que a vi não a reconheci. Quando aquela loira entrou na festa e veio em minha direção cheguei a soltar um uau. Somente quando ela falou comigo é que eu vi que era nossa querida maninha. Está falando com a tua filha já faz tempo. Não acho uma boa influência para a menina. Se eu fosse você iria até lá e dava um jeito de afastá-las. Não foi uma boa filha. A mamãe se referia a ela como a “Ingrata” e a Santinha a detesta.

- Minha filha, há tantos anos que não lhe vejo. Acho que a última vez foi no velório da mamãe. Seu pai não me dá mínima e nunca fui próxima das minhas cunhadas. Mas você é tão linda, se parece tanto comigo. Eu também era assim. Mas não fique triste. Isso tudo passa. Ninguém merece nosso sofrimento. O que o teu pai fez é normal. Ele sempre foi um estúpido. Eu sim sofri. Muito mais do que você e estou aqui bem forte. Quando era mocinha meu pai começou a me tocar. A primeira vez foi durante o jantar. Senti sua mão sob a saia escolar subindo em direção da calcinha. Fiquei tão nervosa que não soube o que fazer. Congelei. Depois, começou a avançar cada vez mais. Eu tinha que fugir dele o tempo todo. Comecei então a me esconder em um quartinho que havia embaixo da escada. Meu tormento foi imenso. A mamãe descobriu e ficou uma fera. Achei que iria dar morte. Disse que eu era uma filha ingrata, que estava tomada pela pomba gira, e passou a me bater também. Quando eu tinha 17 anos casei e nunca mais voltei para casa. Não fui nem no enterro do maldito. Não sei por quê estou te contando tudo isso. Sabe, na minha religião a gente não se confessa, e sinto uma necessidade de desabafar.



Pierre Puvis de Chavannes - Mary Magdalene

definições definitivas


O pára-quedas é o único meio de transporte que ao enguiçar, se chega mais rápido.

De vida e arte


Poucas pessoas souberam transformar sua própria vida em arte. Frida Kahlo foi uma delas.
*Imagem: Frida Kahlo, As duas Fridas.

Dilma...


Sabemos que quem expõe o traseiro na janela, não pode reclamar de passarem a mão, certo? É mais ou menos assim com artistas, participantes de reality show ou políticos. Se bem que existe uma pequena diferença, leve, mas existe. Os artistas e os participantes de reality querem que se lhes passe a mão. Já os políticos, bem, estes sempre providenciam as mais variadas explicações, muitas das vezes à custa, inclusive, de distorções do vernáculo. Mentira passa a ser falta da verdade, maquiagem, distorção, mal entendido, etc., etc. Pois bem, a nossa querida Ministra-candidata publicou seu “currículo” no qual se lê que ela tem mestrado e doutorado. Pasmem, mas não é nada disso. Segundo o jornal Valor, a Ministra reconheceu o erro e tentou se explicar. Pois bem, no meu entender das coisas, quem não defende “tese” não pode se gabar do título. Eu sei que tem muita gente por ai dizendo que fez isso e aquilo, sem ter concluído nem uma coisa nem outra, mas uma Ministra de Estado não pode querer ter mestrado e doutorado sem tê-lo. Sabemos que a senhora Ministra foi da “clandestinidade”, ativista política contra o regime de exceção e que desempenhou seu papel na história do país. E, hoje, ocupa um dos mais altos cargos da República, tendo antes passado por outros postos, se não tão importantes, igualmente honrosos. Portanto, não precisa “maquiar” seu “currículo” para parecer mais ou melhor. Qual terá sido a finalidade desta distorção? Será sua candidatura ao posto mor de presidente da república? Será que para poder ostentar o título de “nunca na história desse país uma mulher foi eleita para a presidência” precisa desse tipo de sordidez? Aqui cabe uma explicação, e esta, só a senhora ministra pode dar...






Você encontra a charge original aqui: http://chargesdobenett.zip.net/


...MAIS AMOR...
...POR FAVOR...

Apenas Igual ou Simplesmente Banal


Este poema

por Régis Bonvicino

Este poema
não chama a atenção
é igual a milhares
-sequer por um momento

iustra, apático, o passado
caça moscas
paga juros
não tem saco aéreo


víboras, ratos,
ladrões desprezam seu túmulo
uivam lobos de pelúcia
não tem futuro


é abelha cega com sua parelha de óculos
sua língua não é uma esponja
suas antenas farejam Drummond
não enxerga no escuro


não cria inimigos
não morre depois do ataque
não tem farpas
tolera o mundo
--------------------------------------------------------------------------------
RÉGIS BONVICINO é poeta, autor de "Página Órfã" (ed. Martins).
 Publicado no Caderno Mais! da Folha de ontem.

Planeta Água - Guilherme Arantes

Água que nasce na fonte
Serena do mundo
E que abre um
Profundo grotão
Água que faz inocente
Riacho e deságua
Na corrente do ribeirão...
Águas escuras dos rios
Que levam
A fertilidade ao sertão
Águas que banham aldeias
E matam a sede da população...
Águas que caem das pedras
No véu das cascatas
Ronco de trovão
E depois dormem tranqüilas
No leito dos lagos
No leito dos lagos...
Água dos igarapés
Onde Iara, a mãe d'água
É misteriosa canção
Água que o sol evapora
Pro céu vai embora
Virar nuvens de algodão...
Gotas de água da chuva
Alegre arco-íris
Sobre a plantação
Gotas de água da chuva
Tão tristes, são lágrimas
Na inundação...
Águas que movem moinhos
São as mesmas águas
Que encharcam o chão
E sempre voltam humildes
Pro fundo da terra
Pro fundo da terra...
Terra! Planeta Água
Terra! Planeta Água
Terra! Planeta Água...(2x)
Água que nasce na fonte
Serena do mundo
E que abre um
Profundo grotão
Água que faz inocente
Riacho e deságua
Na corrente do ribeirão...
Águas escuras dos rios
Que levam a fertilidade ao sertão
Águas que banham aldeias
E matam a sede da população...
Águas que movem moinhos
São as mesmas águas
Que encharcam o chão
E sempre voltam humildes
Pro fundo da terra
Pro fundo da terra...
Terra! Planeta Água
Terra! Planeta Água
Terra! Planeta Água...(2x)

domingo, 21 de março de 2010

A PALAVRA




Por que não a encontro?

Apalpá-la como se dura,

como quem alisa a rocha,

surpresa, por imaginá-la pura;

isso é perder-se de propósito

na floresta?



Sábia, esperando

ser colhida e viva, ela,

no monte sólido de cinzas

(donde a ave não renascerá),

parece flor, contemplativa.



Ilustração: Vendedora de flores, de Diego Rivera (1886-1957).

Notícias



"Anuncie com cem línguas a mensagem agradável...
mas deixe que as más notícias se revelem por si mesmas."
...frase de William Shakespeare

POETA (S)

Uma larva carcome as entranhas.
Estranha lavra,
na busca do alimento,
chafurda n'alma,
e sua lama interior.

A lavra da larva,
a palavra,
ecoa solta...
levando alegria para onde há pavor,
trocando ódio por amor,
seja aonde for.





PS: Texto meu, imagem captada no Bar Pessoa em Campinas...

Tudo vale a pena, enquanto a alma… não se empena!

.

Mais do que um impulso literário legítimo, se existe,
o que me movia era o desejo de vã glória entre as raparigas magalhânicas”.

Francisco Coloane, Os Passos do Homem


Descobri, quase por acidente mas por intuito quase precoce, que escrever poesia (ou lá como lhe chamam na adolescência!), dá óptimos resultados no curto prazo e alguns deles, muito para além do seu objectivo inicial, distendem-se pelo tempo fora, sempre com a glória e a fama adiada mas apesar de tudo, garantida, ou quase; dava trabalho, é certo, mas o resultado sempre foi proporcional á sua compensação. Ou assim ousei crer.

Com um pouco de engenho e paciência nas práticas miraculosas da manipulação das palavras, sempre se conseguem angariar meia dúzia de admiradoras fiéis na escola secundária, ferozes na concorrência da novidade, as últimas linhas do trovador improvisado, mas genuíno, nada de cópias, ainda que permitidos os lugares comuns, que no ramo bastante exigente que é o acto criativo da poesia, são tolerados, senão insubstituíveis. Claro que fórmulas que recorrem ao “sol do meu olhar”, “até á eternidade”, “amor ardente, para sempre”, “sem ti jamais serei alguém”, estão de imediato excluídas, dado o pouco impacto na plateia das pretendentes, além de que qualquer eterno candidato ao Nobel já as utilizou exaustivamente., quem sabe com a mesma motivação.

De entre algumas e motivantes tentativas, consegui sabe-se lá por que artes uma das minhas pequenas pérolas que me rendeu uma namorada a titulo provisório e umas quantas pretendentes em fila de espera:

Gosto de ver
E desfolhar o amor
Como se fosse o processo do dia
Visto ao contrário.
Ver a sombra, o mar,
A luz fugidia,
Que é ver o pôr-do-sol
Como se ele fosse nascer.
Ver a sombra
O mar e sentir
Que o penar não é nunca renascer
Mas só tarde descobrir
Que o Sol, esta terra e tu
São a parte mais discreta do Ser
E que amar-te,
Como se olha o fim do dia,
É ter-te completamente
Sem nada em ti me pertencer.

Et voilá, simples e eficaz. Uma boa parte dos poetas no seu estado mais primitivo, recolhem benefícios a torto e a direito, inclusive nas notas da disciplina de Português, se fizerem passar uns quantos rascunhos “só para professora ver”, pois que nunca saberão as pobres coitadas se não passarão ao lado dum promissor (sempre promissor) Pessoa ou dum Régio, sem que se tenham apercebido, e vai daí que puxam sempre dumas notas mais benevolentes que o pobre trovador não poderá negar, não vá o diabo tecê-las e o ajudante embrulha-las. Mas neste particular, o conteúdo será inevitavelmente mais ambicioso, mais estruturado, sem plágios mais uma vez, mas com verve, com dramatismo, com um pouco de solidão e loucura, a tal destinada a todos os aspirantes desse circulo feroz e que só pode ser inconfundível;

“Curiosa a escrita do Sol
Onda de fogo, sombra das Estrelas.
Murmúrio enquanto Luz
Esta presença inscrita entre Deus e os homens.”[1], ou

“Pintadas todas as cores e compostas todas as palavras,
Pouco mais me resta senão escutar o canto rouco dos pássaros
E observar as ondas que não repousam o seu ritmo.
Observar pacientemente todas as naturezas quase mortas,
Que é possivelmente o mais antigo ritual do mundo
Que te habita.” [2]

Com sorte até professoras de outras áreas menos atraentes poderão beneficiar o criativo que não belisca nada de biologia ou física, pois de tal modo ofuscado nas suas artes que valerá sempre beneficiar dum pouco de estado de graça.

Mas, existem, contudo alguns revezes, sobretudo quando a fama já ultrapassa somente a expectativa. Durante esse período conturbado do pequeno poeta tenta algumas revistas da especialidade, um ou outro suplemento dito jovem, e vai daí que os tipos bombardeiam-nos com grosseiros comentários de mau gosto, num incompreensível jogo de gato e do rato, do qual este que se preza só desistiu do DN Jovem, quando aqueles se renderam a publicar umas quantas linhas no estilo “worst of” tão apreciado pelos ratos escondidos de serviço que me pediam (como ao resto da prole que esforça que nem danados, para ter um pequeno momento de glória), sem me ter conseguido ao valente prémio das “criticas” indigestas, mais non-sense que o que enviava para o dito suplemento. Entretanto sempre me interroguei sobre o que é que estes iluminados não diriam do precoce Salman Rushdie, do jovem Murakami, dos Tolentino Mendonça ou dos Jacintos Pires, enquanto adolescentes borbulhentos? Na pior das hipóteses, “olha, escreve às carradas tipo Lobo Antunes ou Paulo Coelho, ‘tás a ver, e terás mais visibilidade, notabilidade, mesmo que a tua escrita pareça um amontoado aleatório de recortes de jornal, etecetera”. O poeta jubila em entrar no jogo e sair dele, com duplo cartão amarelo, que nem sempre é o mesmo que um vermelho. Dói mais quando as Dulcineias desta vida nem sabem o que é uma declaração de amor, senão pelas telenovelas híbridas, fingidas, que não têm de longe a deliciosa beleza que fingir com um poema um amor que pode existir. Sem limites.

Quando o jogo perde o sentido, começam os poemas incompletos a ser guardados nas gavetas, nas pastas esquecidas, entre os amigos que com benevolências nos incentivam, nos impelem a procurar uma editora, mas a sinceridade, quando se solta pelo corpo fora, exige mais e mais, vorazmente percorre o argumento omnipresente: Valerá a pena?

Tal como o caro Coloane, “nem sequer sei explicar como aprendi a ler e a escrever, tal como me acontece quando escrevo (…). Por vezes, faço-o com alegria e entusiasmo e outras com esforço e tédio, mas penso que se me aborreço assim com o que escrevo, mais se devem aborrecer os leitores. E então ponho tudo de lado.”, e recomeço, adiando o momento em que a minha satisfação da escrita possa ser do tamanho da quem me recordará, porventura. Até lá, também as palavras têm medo de existir, de se deixarem descobrir, porque já não fingem, já não aceitam o simples jogo da aventura, não se pretendem escondidas num amontoado indistinto duma estante incógnita. Resguardadas nos nossos lugares incógnitos, essas palavras sobreviverão ás fogueiras do tempo, pois que o que se sabe dói menos depois de se saber do que enquanto se não sabe.”[3] E então, enquanto não têm vida própria, as minhas palavras, ponho tudo de lado e vivo por aí, mas isso é outra conversa…


Bizarril, 2009


[1] Para professoras de Português do Oitavo Ano
[2] Estilo muito indicado para professoras do Décimo Ano ou outros.
[3] Ferreira, Vergilio, Em nome da terra

|nota breve ao texto longo como um raio: este, foi inicialmente editado no Impressões Digitais, e recuperado, pretende tão somente homenagear os "imberbes e colossais poetas", enquanto jovens! Calha a todos...|